Título: EVO MORALES ANUNCIA `REVOLUÇÃO AGRÁRIA¿
Autor: Jairo Barbosa
Fonte: O Globo, 16/05/2006, Economia, p. 26

Presidente da Bolívia garante à UE que terras produtivas serão preservadas

ESTRASBURGO, França. O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem no Parlamento Europeu que o próximo passo de seu governo, que nacionalizou as reservas de gás e petróleo, será uma ¿revolução agrária¿. No discurso, porém, ele procurou tranqüilizar os produtores de soja do Brasil, ao garantir que quem usa a terra para produzir de fato não correrá riscos.

¿ É o sentimento do povo boliviano, especialmente do movimento indígena e camponês, de que terras que têm função social e econômica, terras trabalhadas, sejam de mil, dois mil, três mil hectares, serão respeitadas ¿ disse Morales.

O presidente afirmou que há muitos aliados entre os produtores de soja brasileiros, que respeitam as normas da Bolívia e que realmente cultivam soja e outros produtos. Estes, segundo Morales, não devem se preocupar.

`Vamos acabar com o latifúndio improdutivo¿

Morales disse também que antes de sua viagem à Europa ele se reuniu com ¿amigos de bancos privados brasileiros¿, para ouvir suas preocupações e propostas. O presidente afirmou que desde a última fracassada reforma agrária no país, em 1952, o latifúndio se concentrou na parte oriental.

¿ Temos crescimento, mas não há redistribuição deste crescimento. Vai ser um processo mudar isso. Daí a reforma agrária. Vamos acabar com o latifúndio improdutivo. Mas é importante o diálogo.

Quando Morales entrou no plenário do Parlamento Europeu para discursar, representantes de partidos de direita deixaram um dos lados da platéia praticamente vazio, o que surpreendeu alguns jornalistas europeus. O presidente boliviano reagiu com tranquilidade:

¿ Se tem parlamentar que não quer escutar que existe exclusão, marginalização e humilhação, eu só quero dizer a eles que somos da cultura do diálogo, da vida e de unidade na diversidade.

No discurso no Parlamento, Morales mencionou o ¿companheiro Lula¿, dizendo que seu governo tem uma aliança estratégica com o Brasil, e voltou a acusar a imprensa de tentar envenenar a relação dos dois países. Ele foi interrompido várias vezes por aplausos dos parlamentares ¿ quase todos de esquerda.