Título: SEM APOIO, A REPRESÁLIA
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Fonte: O Globo, 16/05/2006, O Mundo, p. 30

WASHINGTON. O governo dos EUA decidiu impor uma represália à Venezuela ampliando uma antiga sanção que adotara contra o país: além de não vender armas ou equipamentos militares ao governo de Hugo Chávez, outros países também estão proibidos de revender à Venezuela material bélico adquirido nos EUA, ou que seja produzido por eles mas com tecnologia ou peças made in USA. Este é o caso, por exemplo, dos aviões militares da Embraer:

¿ Negociações desses aparelhos agora ficam automaticamente proibidas devido à decisão que acabamos de tomar ¿ disse o secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Tom Shannon.

O castigo foi imposto porque a Venezuela tem se recusado a cooperar com os EUA no combate ao terrorismo internacional. É acusada também de manter relações suspeitas com os dois grupos guerrilheiros colombianos que os EUA consideram terroristas.

¿ Depois de tentar obter essa cooperação, ao longo de vários anos, não a conseguimos. Além disso, a Venezuela tem relações com Cuba e Irã, que consideramos patrocinadores do terrorismo internacional. Sem contar que ultimamente o governo venezuelano vem atacando resoluções da ONU em fóruns internacionais ¿ disse Shannon, numa clara referência às críticas de Chávez às pressões dos EUA contra o Irã por seu programa nuclear.

Ontem, em Londres, Chávez voltou a defender o Irã, considerando seu programa nuclear pacífico e afirmando que um ataque militar americano ao país seria ¿um ato de loucura¿.

Ao anunciar o incremento da sanção à Venezuela, Darla Jordan, porta-voz do Departamento de Estado, disse que ¿por quase um ano tem havido uma falta quase total de cooperação¿ da Venezuela na guerra contra o terrorismo. A medida era esperada desde que, há pouco menos de um mês, ao divulgar seu informe anual sobre terrorismo internacional, o Departamento de Estado americano acusou Chávez de ter ¿uma afinidade ideológica¿ com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Liberação Nacional (ELN).

Chávez recebeu a notícia em Londres com aparente tranqüilidade. Em fevereiro, irado com declarações da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, de que a Venezuela é um país perigoso e uma das maiores fontes de problemas para os EUA , ele ameaçou suspender o fornecimento de petróleo aos americanos. Ontem, porém, contemporizou quando jornalistas lhe perguntaram se faria isso:

¿ Não. Sou consciente de minhas responsabilidades. Se eu ligasse para o presidente da PDVSA (estatal petroleira da Venezuela) e lhe dissesse para não enviar petróleo aos EUA seria uma loucura ¿ disse ele.

A iniciativa anunciada ontem pelos EUA é mais uma etapa no intercâmbio de golpes entre os dois governos. Em janeiro, a Venezuela expulsou um adido naval americano, acusado de espionagem. O presidente George W. Bush reagiu expulsando uma diplomata da embaixada da Venezuela em Washington. Em fevereiro, o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, comparou Chávez a Hitler. Chávez revidou por meio do vice-presidente José Vicente Rangel, segundo o qual Bush, ¿como Hitler¿, tem ¿uma famosa quadrilha de auxiliares¿, incluindo Rumsfeld.