Título: FAMÍLIA ACUSA POLICIAIS DE MATAR CABELEIREIRO DURANTE PERSEGUIÇÃO
Autor: Sergio Roxo e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 4

Mãe e irmão de um dos chefes da facção de SP são assassinados em casa

SÃO PAULO. Morto com três tiros na tarde de anteontem em São Mateus, na Zona Leste da capital, o comerciante Lindomar Lino da Silva, de 29 anos, foi, nas palavras de sua família, uma vítima do excesso da Polícia Militar. Alertado por vizinhos, Silva fechou mais cedo o seu salão de cabeleireiro com medo dos ataques e foi a pé para casa. Por volta das 16h, a 500 metros do salão, foi atingido.

¿ As pessoas viram que foi um carro da PM que atirou nele ¿ disse o balconista Francisco Lima da Silva, de 21 anos, irmão da vítima.

Na versão da família, dois carros da PM estavam perseguindo dois motoqueiros, que conseguiram escapar, e, em seguida, atiraram no comerciante. Os parentes disseram que ele foi atingido por duas balas na cabeça e uma no abdômen.

De acordo com o boletim de registro do caso no 49ª DP (São Mateus), policiais militares da 2ª Companhia do 38º Batalhão encontraram Silva baleado quando faziam ronda pelo bairro. O comerciante foi levado pela PM para o Hospital Geral de São Mateus, mas não resistiu e morreu.

¿Meu filho nem poderá conhecer o pai¿, diz viúva

Ontem à tarde, cerca 30 amigos e parentes da vítima se reuniram no salão de Silva. Eles disseram que ele não tinha passagens pela polícia e não andava armado. Culparam a PM pela sua morte.

¿ Em vez de ir atrás dos bandidos, matam uma pessoa inocente e trabalhadora ¿ disse uma vizinha.

A mulher da vítima, a ajudante-geral Maria de Lima, de 23 anos, pretende levar o caso à Corregedoria da PM.

¿ Já que o meu marido não será trazido de volta, quero justiça. Meu filho nem poderá conhecer o pai ¿ disse a mulher.

Para sustentar a casa, além do trabalho de dia no salão, Silva, segundo os familiares, também fazia um extra como balconista numa padaria à noite.

Até o fim da tarde de ontem, o corpo do comerciante ainda não havia sido liberado pelo Instituto Médico Legal (IML). A família não sabia se ele seria enterrado em São Paulo ou no Ceará, seu estado natal. A Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que no momento em que o boletim foi registrado não foi encontrada qualquer testemunha para relatar como ocorreu o crime. A secretaria informou que a morte de Silva será investigada pela Polícia Civil.

A mãe e o irmão de Marcelo Vieira, o ¿Capeta¿, um dos chefes da facção que comanda os ataques, foram mortos durante as ações de domingo. Três homens armados invadiram a casa da família, em Parada de Taipas, na periferia, e mataram Maria Aparecida da Silva, de 63 anos, e Eduardo Floriano da Silva, de 24. Capeta está preso. O pai escapou porque estava no banheiro na hora da invasão. A polícia disse não ter registrado acusação contra policiais durante a apuração do caso, mas amigos da família disseram que os homens armados entraram na casa gritando que eram da polícia. Para a polícia, também pode ter havido um acerto de contas entre quadrilhas.

Vítima também teria ligação com criminosos do bairro

O crime ocorreu por volta da meia-noite do domingo. Os dois chegaram a ser socorridos, mas morreram no hospital do bairro. Eduardo era conhecido como ¿Capetinha¿. Segundo pessoas próximas da família, o rapaz já teve envolvimento com grupos criminosos do bairro.

¿ Mas ninguém se atreveria a encrencar com ele. O irmão dele é chefe ¿ disse um morador que não quis se identificar.

O caso foi registrado no 74ª DP durante a madrugada de domingo por parentes das vítimas.

* do Diário de S.Paulo