Título: CRIME ORGANIZADO MANTÉM ONDA DE ATENTADOS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 5

Prédios do Judiciário, ônibus e bases da polícia sofrem ataques; conjunto habitacional de policiais é alvejado

SÃO PAULO. A onda de violência continuou ontem em São Paulo: foram registrados mais atentados do crime organizado contra prédios do Judiciário, bases da polícia e ônibus. O balanço oficial dos ataques, que somava 184 atentados até anteontem, chegou ontem a 251, segundo a Secretaria de Segurança Pública.

O silêncio em São Paulo provocado pelo comércio fechado e das ruas praticamente desertas só foi interrompido pelo som dos tiros logo no início da madrugada de ontem. O prédio do Fórum de Osasco e uma base comunitária da Polícia Militar da cidade foram atacados por homens armados por volta da 0h30m. Cerca de 30 tiros atingiram o prédio do Fórum, que ontem teve de paralisar parcialmente os trabalhos. Audiências e interrogatórios foram transferidos para a semana que vem. A base da PM foi atingida por uma granada e três tiros. Nenhum policial foi ferido, mas os policiais da Rota mataram minutos depois três suspeitos, dois em Osasco e um em Carapicuiba. Até a noite de ontem nenhum dos mortos fora identificado.

Número de ônibus queimados sobe para 87

Ontem à tarde, mais dois ônibus foram atacados, subindo de 85 para 87 o total de coletivos queimados. Usando bombas de fabricação caseiras, dois homens atearam fogo num ônibus que circulava pelo bairro da Vila Maria, na Zona Norte da capital. Antes do ataque, eles pediram para que todos os passageiros, além do motorista e do trocador, deixassem o veículo. Em seguida, lançaram as bombas. Em menos de 15 minutos, o ônibus estava completamente destruído. Mais tarde, um outro ônibus foi apedrejado. Dois rapazes que seriam responsáveis pelo crime foram presos enquanto jogavam gasolina contra o veículo, que teve apenas partes das instalações destruídas pelo fogo.

Alvo preferencial dos bandidos nos últimos quatro dias em todo o estado, os policiais que moram num prédio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) de São Paulo, no bairro de Cachoeirinha, foram surpreendidos pelo barulho dos tiros contra o prédio. Numa moto, dois rapazes atiravam várias vezes tentando acertar as janelas onde moram policiais civis e militares. Ninguém ficou ferido, mas depois dos atentados os policiais que residem no local se revezaram em grupos de 15 para fazer vigília no conjunto residencial. Segundo peritos, os tiros foram disparados por revólveres calibre 38 e fuzis.

Os policiais prenderam três rapazes no instante em que eles preparavam coquetéis molotov numa rua de um bairro da periferia da Zona Leste. Foram apreendidas uma garrafa de plástico e duas de vidro contendo gasolina. No gargalo das garrafas havia flanelas. O material seria arremessado contra ônibus, segundo a polícia.

Em reação, o Departamento de Investigações contra Narcotráfico (Denarc) estourou ontem à tarde uma central telefônica da facção criminosa que estava por trás dos atentados. A central estava instalada num apartamento na região central da capital paulista. Uma pessoa foi presa em flagrante. Segundo o delegado Cosmo Stikovics, titular da Divisão sobre Entorpecentes (Dise), foram encontrados pelo menos 60 aparelhos celulares, além de notebooks e outros aparelhos.