Título: LEMBO: ACUSAÇÃO DE ACORDO É OFENSA
Autor: Ricardo Galhardo, Chico de Góes e Gelson Venério
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 8

Governo de SP nega negociação com facção criminosa para conter violência

SÃO PAULO. O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), disse ontem que entendia como uma ofensa a acusação de que o estado tenha feito acordo com chefes da facção criminosa que comanda ataques em cidades do interior e litoral. Depois de quatro dias de tensão, 73 rebeliões foram controladas em menos de uma hora.

Há suspeitas de que o governo paulista tenha atendido reivindicações do crime organizado, que exigia desde banho de sol para os líderes da facção transferidos na semana passada à compra de televisores para que assistir aos jogos da Copa e visitas íntimas. Pela legislação, ao ser transferido para o regime disciplinar diferenciado, o preso fica trancafiado dez dias seguidos sem direito a visitas, não pode assistir TV, ouvir rádio, ler jornais e os banhos de sol são limitados a uma hora por dia.

Lembo disse que não admitiria ¿acordo com a bandidagem¿. Perguntado sobre o assunto, demonstrou irritação:

¿ A sua pergunta é justa, legítima, mas me ofende. Me ofende porque não há acordo com a bandidagem ¿ disse. Para ele, a polícia paulista venceu o crime organizado após os ataques iniciais.

Alegando que São Paulo nunca assumira uma ¿posição de soberba¿ em relação à ajuda do governo federal, o governador disse que esse assunto é tratado como ficção na imprensa.

¿ Essa é uma posição de ficção. São Paulo nunca se negou a cooperar ou aceitar a cooperação do governo federal. Deixamos claro que não haveria necessidade da tropa federal nas ruas de São Paulo ¿ disse ele. ¿ Se houver novos ataques, vamos responder outra vez.

Lembo atacou o que chamou de falta de compromisso da Associação Nacional de Telecomunicações (Anatel) para ajudar no combate ao uso de celular em cadeias e penitenciárias.

¿ A Anatel, que é do governo federal, em vez de baixar resoluções centralizadoras deveria pensar em ampliar a possibilidade de os estados fiscalizarem os presídios. A Anatel está lá em cima, em Brasília, longe de nós, e nós aqui sofrendo e lutando.

¿O Exército é nobre, mas não para situações pequenas¿

O governador rechaçou a especulação de que, ao recusar a ajuda do governo federal, estaria preocupado com questões políticas.

¿ Claro que não, eu não sou tolo. Tenho um relacionamento muito constante com o presidente Lula. Não teve nenhuma posição de soberba de São Paulo. São Paulo não é soberbo, São Paulo tem consciência de sua dignidade e de seu respeito.

Lembo disse que não poderia aceitar no estado a ajuda de um Exército que não conhece ¿costumes e valores¿ paulistas.

¿ O Exército é muito nobre, mas não para atuar em situações pequenas e locais ¿ disse, procurando amenizar o caos vivido pelos 40 milhões de paulistas nos últimos cinco dias.