Título: SITUAÇÃO CONTINUA TENSA EM OITO PENITENCIÁRIAS
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 9

Apesar do anúncio, pelo governo, do término de rebeliões de detentos, PM é acionada para controlar presídios

SÃO PAULO. Apesar de oficialmente as rebeliões que atingiram 74 presídios de São Paulo terem terminado no início da noite de anteontem, em pelo menos oito penitenciárias a situação ainda não era de total tranqüilidade e a Polícia Militar foi chamada para manter o controle, como disse o secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Nagashi Furukawa, em entrevista coletiva ontem.

Ele informou que esses locais foram muito danificados durante o motim e não havia condições de os presidiários voltarem às celas. De acordo com o secretário, ninguém conseguiu escapar. Nove detentos foram mortos.

As rebeliões nas penitenciárias foram planejadas por meio de telefones celulares. Líderes de uma facção criminosa ligaram para detentos em vários estabelecimentos prisionais e ordenaram o início do levante. O fim da agitação se deu da mesma forma, embora Furukawa não admita que tenha havido uma ordem nesse sentido

¿ Se houve um comando para terminar, eu não sei. Para ele, as ações pararam porque "a polícia foi para cima".

Suposto acordo irrita secretário

O secretário assentiu que celulares são infiltrados nas cadeias sem que seguranças saibam. Ou que sabem, mas recebem para fechar os olhos.

¿ Os aparelhos estão cada vez menores e a revista manual é complicada de ser feita ¿ disse Furukawa.

De acordo com o secretário, os aparelhos entram na prisão, de três formas: por meio de parentes, de caminhões de entregas e por funcionários que se corrompem:

¿ Corrupção existe desde o Congresso Nacional até o mais simples funcionário público.

Para ele, as concessionárias de telefonia móvel teriam de instalar bloqueios de celulares nas prisões. Um projeto nesse sentido tramita no Congresso. As concessionárias afirmam que, para isso, é necessária uma legislação.

Durante a entrevista, Furukawa demonstrou irritação com as perguntas sobre suposto acordo entre o governo de São Paulo e os rebelados.

Mesmo negando veementemente uma negociação, admitiu que permitiu a instalação de televisões em locais de uso comum, sem ônus para o Estado. Essa negociação se deu, segundo Furukawa, há 20 ou 30 dias. Ele negou que o acesso às TVs tenha sido uma das imposições da facção criminosa para pôr fim às rebeliões.

O secretário disse que não é radical, mas uma pessoa moderada. Ele, no entanto, se negou a prognosticar o fim da principal facção criminosa de São Paulo. Há cerca de três anos, o diretor do Departamento de Investigações Criminais (Deic), Godofredo Bittencourt, afirmou à imprensa que esse grupo estava liquidado.

¿ Não fui eu quem falou que o monstro cheio de dentes havia sido reduzido a um dente ou outro, afirmou o secretário de Administração Penitenciária, que negou ter divergências frontais com as polícias civil e militar.

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