Título: VIOLÊNCIA NA MADRUGADA DE UMA CIDADE VAZIA
Autor: Gio Mendes
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 10

Paulistano fica em casa enquanto polícia mata homens em tiroteio e prende outros com armas e explosivos

SÃO PAULO. Conhecida por oferecer opções de lazer 24 horas por dia, São Paulo parecia uma cidade fantasma na madrugada de ontem. Pontos tradicionais de diversão da noite paulistana estavam desertos. No Centro, estava vazia até a Rua Augusta, cujos bares, casas noturnas e pontos de prostituição costumam fervilhar de gente mesmo nas madrugadas de terça. Pouquíssimos carros passavam ali. A falta de clientes levou os raros estabelecimentos que abriram as portas a fechar mais cedo.

Até a Avenida Paulista, cartão-postal da cidade, permaneceu vazia durante a madrugada. A única movimentação ali era um bloqueio da PM. A falta de movimento também imperava nas avenidas 23 de Maio, Santo Amaro e Ibirapuera. Com medo da violência e de ser parado pela polícia, o paulistano ficou em casa.

A cidade só não estava 100% deserta porque havia vários moradores de rua em pontos do Centro, como a Avenida Rio Branco e a Praça da República. O Bar Estadão, no Viaduto 9 de Julho, foi um dos poucos locais que ficou aberto 24 horas na região central, com movimento abaixo da média.

Troca de tiros com policiais

Com a cidade deserta, os casos de violência se sucederam. Dois homens foram mortos num tiroteio com policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) depois de roubarem um táxi em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Levavam dois revólveres calibre 38 e oito bananas de dinamite. A PM acredita que usariam os explosivos em mais um atentado na cidade.

O taxista Edmundo da Costa Silva disse que estava transportando uma passageira quando foi atacado pelos dois homens pouco antes de chegar ao destino da cliente, o Terminal João Dias. Os bandidos, contou, apareceram de repente e os obrigaram a descer do veículo na Avenida João Dias. Assim que os criminosos fugiram, Silva avisou a polícia, que localizou o táxi na Rua Bento Branco de Andrade Filho.

O táxi foi perseguido até a Rua Aleixo da Silva, onde os criminosos bateram com o veículo no meio-fio. De acordo com a PM, os dois homens desceram atirando nos policiais da Rota e acabaram sendo baleados. Levados ao pronto-socorro do Hospital Regional Sul, não resistiram aos ferimentos.

Para o taxista, os assaltantes pretendiam usar seu carro num atentado contra a polícia.

¿ Eles não pediram dinheiro ¿ disse.

Silva se emocionou ao lembrar que a mulher lhe pedira para tomar cuidado com a onda de violência em São Paulo.

¿ Minha mulher é educadora e me ligou à tarde dizendo que tentaram jogar um explosivo no CEU Aricanduva. Quando vi as dinamites dentro do carro, lembrei-me do conselho dela ¿ afirmou, com os olhos marejados.

Danilo de Oliveira Ferreira, de 18 anos, foi preso quando preparava três coquetéis molotov na Rua Marim dos Caetés, no Jardim São Carlos, região da Vila Jacuí, Zona Leste de São Paulo, no final da noite de segunda-feira. Outros dois jovens que estavam no local com Ferreira conseguiram fugir correndo. A PM apreendeu uma garrafa de plástico e duas de vidro com combustível. No gargalo das garrafas havia flanelas, que seriam acesas antes de serem arremessadas em algum alvo. Segundo policiais militares da Força Tática do 2º Batalhão, Ferreira negou estar com os coquetéis molotov.

Na região do ABC, Grande São Paulo, a Polícia Militar prendeu ontem de madrugada seis homens no Jardim Zaíra, em Mauá. Com Evandro Carlos de Oliveira, de 27 anos, foram encontrados um revólver calibre 38, uma submetralhadora 9mm e cerca de cem balas. Segundo o sargento Luiz Carlos da Silva, da Força Tática do 30º Batalhão da PM, Oliveira admitiu ser integrante da facção criminosa responsável pelos atentados à polícia paulista nos últimos dias.

Formação de quadrilha

A Força Tática fazia um patrulhamento na Avenida Saturnino João da Silva quando suspeitou de um grupo de rapazes reunido ao redor de uma moto. Um deles era Oliveira, que se preparava para subir na garupa da moto quando foi abordado por agentes. De acordo com a polícia, o revólver foi encontrado na cintura de Oliveira, enquanto a submetralhadora e a munição estavam dento de uma bolsa que o acusado carregava nas costas. Os seis homens foram levados para a 1ª DP de Mauá, onde foram autuados em flagrante por formação de quadrilha.

Segundo o sargento, Oliveira, também conhecido como ¿Zóio¿, já fora preso por homicídio e teria sido resgatado da Penitenciário de Itirapina, no interior paulista, em outubro passado.

¿ Ele me disse que se tivesse possibilidade, teria reagido para não ser preso ¿ comentou o sargento.

A polícia disse que investigaria a participação do grupo em outros ataques ocorridos nos últimos dias.