Título: Na Colômbia, acordo resolveu
Autor: GERALDO PRADO
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 16

O sociólogo Cláudio Beato, do Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que o Brasil tem de adotar soluções duras, parecidas com as da Colômbia, que fez um acordo permitindo a extradição de chefes de seus cartéis para as prisões dos EUA. Para ele, a medida conseguiu desarticular o crime organizado no país vizinho. Presos perigosos precisam ser separados do convívio com os demais, diz.

O que estados como São Paulo precisam fazer para se livrar da ameaça representada pelas facções criminosas?

CLAUDIO BEATO: Em primeiro lugar, temos de começar a pensar que há certos tipos de presos especiais. Hoje, eles continuam na área de influência das prisões, convivendo abertamente com outros presos. Não pode ser assim. Eles precisam ficar separados, em regime especial. Na Colômbia, por exemplo, foi criado o instituto da extradição. Os grandes chefes eram enviados para prisões dos Estados Unidos. A experiência foi um sucesso. Praticamente desmontou os grandes cartéis. A alternativa, talvez, seja pensar na federalização para alguns criminosos.

O senhor teme ser acusado por outros especialistas de defender uma lei de execuções penais mais dura?

BEATO: Sou um defensor das penais alternativas. Portanto, não temo esse tipo de crítica. As prisões que estão aqui, do jeito que funcionam hoje, ainda vão gerar muitos PCCs. Estão superlotadas e misturam presos perigosos com outros presos, criando uma massa de manobra para o crime organizado nas prisões. É preciso lembrar que São Paulo é a maior população prisional do país. Tem tantos presos quanto a população carcerária inteira da França.

O senhor defende a criação de prisões federais para determinados presos?

BEATO: Todo ano falam isso. Não sai porque não quer sair até hoje. Lamentavelmente, nosso ministro da Justiça funciona muito mais como advogado do governo e não para tratar da segurança pública.

Em que condições os presos devem cumprir pena nesse tipo de prisão?

BEATO: Em regime disciplinar diferenciado. Neste caso, ele pode ficar mais de um ano dentro do regime, caso esteja dando problema. Hoje, o preso, mesmo perigoso, goza de vários benefícios, como visita íntima. E tem o problema na corrupção. Defendo que , nessas cadeias, seja feito um rodízio dos agentes, até para protegê-los dos riscos. Infelizmente, hoje, dentro das prisões se leva tudo. Não há controle sobre o que ocorre lá dentro. As prisões são ambientes violentíssimos.

Que outras medidas podem ser tomadas para neutralizar as ações de facções organizadas?

BEATO: Outra coisa que temos de começar a pensar: o juiz sem rosto. Ninguém precisa saber quem é. A situação hoje é de risco. Quem vai querer testemunhar? Juiz sem rosto funcionou na Itália. Pode funcionar aqui também.