Título: PF PRENDE CHEFE DA MÁFIA DO INSS NO RIO
Autor: Carla Rocha
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O País, p. 17

Armando Avelino Bezerra é acusado de comandar quadrilha que repatriou US$2,3 milhões desviados

Quatro pessoas foram presas ontem durante a Operação Branca de Neve da Polícia Federal, que cumpriu mandados de busca e apreensão no Rio e em São Paulo. Entre elas, o advogado Armando Avelino Bezerra, um dos chefes da quadrilha que fraudou o INSS no final da década de 80. Ele cumpriu pena, mas estava solto desde 1997 graças a um hábeas-corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Amando Avelino foi preso em sua casa, num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, sob a acusação de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nos últimos anos, ele estaria usando empresas sediadas em paraísos fiscais para trazer de volta ao país o dinheiro desviado da Previdência Social.

Desde que deixou a cadeia, Armando Avelino não mantinha mais uma atividade profissional intensa, mas apresentava alto padrão de vida. A Polícia Federal acredita que a quadrilha, chefiada por ele, teria adquirido mais de cem imóveis no Rio, a maioria na Barra, acumulando um patrimônio milionário que ainda não foi estimado. A quadrilha do INSS foi acusada de ter desviado verbas dos cofres públicos.

Quadrilha investia até em obras de arte

Além de atuar no mercado imobiliário, o grupo estaria negociando títulos no mercado financeiro e investindo em obras de arte. Ontem, um caminhão com telas e tapetes persas chegou à sede da PF à tarde. O rastreamento de todo o patrimônio adquirido pelo grupo será feito agora com a ajuda dos documentos e computadores apreendidos ontem pelos agentes federais, que cumpriram 30 mandados de busca e apreensão.

Em São Paulo, as buscas foram feitas numa corretora de valores que estaria sendo usada nas operações de mercado. Cerca de 135 policiais federais e 22 auditores participaram ontem da operação em conjunto com o Ministério Público Federal e a Procuradoria do INSS.

As investigações que deram origem à Operação Branca de Neve começaram em 2004. Os investigadores descobriram que, somente em 2003, uma empresa offshore ligada à quadrilha, a Villars Holding, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, repatriou para o país US$2,3 milhões. Um dos mecanismos usados para fazer o dinheiro chegar à quadrilha foi colocar a Villars como sócia de empresas de fachada montadas pelo grupo, entre elas, a Imobiliária Orial, a Coronado Empreendimentos, e a Rioalugue Gerenciamento de Imóveis. Somente a Orial negociou 38 casas do condomínio Praia do Moleque em Angra dos Reis. Também estão sendo investigadas uma fábrica de aviões, a ABS, e uma escola de aviação, a Alfabravo, que funcionavam no Clube Esportivo de Ultraleve (CEU), em Jacarepaguá.

Os sócios da Imobiliária Orial eram Ricardo Pereira Carvalho ¿ morto a tiros em 2003 ¿ a mulher dele, Josete Martins, e Esperidião Fernandes Campos. A Coronado Empreendimentos pertencia a Ricardo Martins. Depois de algum tempo, a quadrilha deixou de usar a Orial e criou a Rioalugue Gerenciamento de Imóveis que tinha como sócios o filho de Esperidião, Marcos Vinícius Fernandes Campos e o filho de Ricardo, identificado apenas como Márcio. A PF não descarta a possibilidade de passar a investigar a morte de Ricardo, que não chegou a ser elucidada no inquérito da Polícia Civil. Esperidião tinha procurações da Villaris Holding e da Coronado Empreendimentos. As ligações entre ele e Armando Avelino foram decisivas para deflagrar a operação da PF.

Armando Avelino usou laranjas e empresas de fachada para lavar o dinheiro desviado do INSS que estava no exterior. Três outros integrantes da quadrilha também foram presos ontem: Cícero Nogueira de Souza, Esperidião Fernandes Campos e João da Hora Santos Filho, auditor da Receita Federal. Josete, que também agiu como laranja, não foi presa ainda, mas será indiciada. A prisão temporária dos quatro foi pedida porque a PF temia que eles fugissem do país.

¿A identidade do chefe é sempre protegida¿

O delegado da PF, José Maria Fonseca, disse que as investigações mostraram que Armando Avelino teria uma importância na organização criminosa muito maior do que se imaginava na época da prisão da quadrilha do INSS.

¿ As investigações sobre crime organizado têm revelado nos últimos anos que a identidade do chefe é sempre protegida. O fato é que o patrimônio ocultado pela quadrilha do INSS durante anos estava voltando de forma dissimulada, via laranjas ou empresas de fachada, através da ação dele (Amando Avelino) ¿ afirmou o delegado, acrescentando que ainda não se pôde estabelecer um vínculo, nesta etapa das investigações, entre os crimes praticados pelo grupo preso e a advogada Jorgina de Freitas, uma das cabeças da quadrilha do INSS, que ainda está presa.

Um dos principais fraudadores do INSS, Armando Avelino foi apontado no processo judicial, à época, como o responsável pela parte financeira da quadrilha. Numa fita de vídeo gravada durante uma festa em sua casa, a advogada Jorgina de Freitas chama Avelino para se sentar afirmando ¿este é o homem que cuida do meu dinheiro¿.

Armando Avelino foi condenado a 12 anos de prisão em 1992. Em 95, ele ganhou direito a regime semi-aberto até ser beneficiado pelo hábeas-corpus. Advogado, ele chegou a ter o registro suspenso, mas, ao deixar a cadeia, voltou a advogar normalmente. Os quatro presos vão responder por crimes de ocultação de bens e valores, lavagem de dinheiro, sonegação e formação de quadrilha.