Título: DÍVIDA AGRÍCOLA PODE SER RENEGOCIADA. DE NOVO
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/05/2006, Economia, p. 31

Pressão de agricultores faz governo estudar possibilidade de alongar os débitos do setor, que chegam a R$12 bi

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE. Diante das pressões de oito governadores ¿ que chegaram a afirmar ontem que os bloqueios em estradas feitos por produtores rurais podem acabar ficando fora de controle ¿ o governo federal já considera a possibilidade de renegociar dívidas do setor. Até agora, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, vinha tentando acalmar os produtores afirmando que no próximo dia 25 serão anunciados o novo plano de safra e um pacote de medidas estruturais para solucionar a atual crise.

Mas, depois de uma reunião ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Rodrigues e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os governadores conseguiram vencer a resistência do governo.

¿ O fato mais importante foi que o presidente Lula ficou convencido de que existe uma grave crise no agronegócio e que as medidas tomadas até agora foram paliativas ¿ disse o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.

Segundo ele, as dificuldades dos produtores em honrar seus compromissos foram provocadas principalmente pelo câmbio, que teria gerado perdas de R$20 bilhões para o setor. Por isso, o governo, que já renegociou R$7,7 bilhões em dívidas do setor, deu sinal de que pode tomar novas medidas nesse sentido. Segundo a Confederação da Agricultura e da Pecuária (CNA), somente entre 2005 e 2006, os débitos dos produtores somam R$12 bilhões.

Os governadores também ouviram do presidente que a política de câmbio flutuante não mudará. Mas, segundo Maggi, Lula disse, sem entrar em detalhes, que o governo está realizando algumas ações no sentido de recuperar as perdas provocadas pela excessiva valorização do real. Já o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, disse que Lula já vê uma recuperação do câmbio no país.

Segundo o ministro da Agricultura, o novo plano de safra terá mais recursos com menos custos para os produtores. Já o pacote de medidas estruturais trata de temas ligados à redução dos custos, com ações nas áreas tributária e fiscal (como redução de impostos), além de medidas que envolvem biodiesel e seguro rural.

Rodrigues reconheceu que as ações anunciadas até agora, como a liberação de R$1 bilhão para a comercialização da soja, não foram suficientes.

Entre os benefícios, redução de juros e prazo maior

No texto apresentado ao presidente, os governadores também incluíram uma pauta de reivindicações, entre elas, a redução dos juros, a prorrogação das dívidas dos produtores, mais recursos para garantir preços mínimos e para o custeio da safra, e redução da carga tributária incidente sobre óleo diesel e sobre insumos agrícolas.

Os governadores saíram satisfeitos do encontro com Lula e se comprometeram a pedir uma trégua aos produtores que vêm bloqueando estradas em vários estados para protestar contra a crise.

Em Porto Alegre, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse a industriais gaúchos que o governo federal anunciará na próxima semana uma linha de financiamento de capital de giro, em condições facilitadas, para socorrer setores que usam mão-de-obra intensiva e que vêm enfrentando dificuldades, sobretudo por causa da forte valorização do real. Um dos setores a ser beneficiado será o das indústrias de calçados.

COLABORARAM Luiza Damé e Chico Oliveira