Título: BUSCANDO O EQUILÍBRIO INTERNO
Autor:
Fonte: O Globo, 17/05/2006, O Mundo, p. 34

Já houve tempo em que o presidente Bush via o tema da imigração como uma oportunidade de expandir o Partido Republicano atraindo mais eleitores hispânicos com uma mensagem de tolerância e inclusão. Seu discurso na TV anteontem à noite foi uma admissão de que o assunto tornou-se um problema que, se não for cuidadosamente gerenciado, poderia se transformar num peso histórico para seu partido.

O debate sobre a imigração reaberto no Senado ontem oferece aos republicanos uma barganha política intragável. Decepcionar as forças conservadoras antiimigração poderia desmoralizar um eleitorado crucial e baixar o comparecimento às urnas nas eleições de novembro num momento em que cada voto aparece como importante para os republicanos. Energizar somente aqueles conservadores arrisca destruir o objetivo há tanto tempo buscado pelo presidente de construir uma maioria republicana durável por meio da normalização das relações de seu partido com a rapidamente crescente comunidade latina.

Bush procurou confortar ambos os lados com seu discurso, e ao fazê-lo tentou definir o meio-termo num debate em que o consenso tem sido difícil. Ao ordenar à Guarda Nacional que patrulhe a fronteira, ele estava determinado a mostrar aos conservadores e aos deputados republicanos sua crença de que a segurança na fronteira é um pré-requisito a qualquer solução legislativa. Mas no tema mais contencioso no Congresso, Bush chegou perto da abordagem agora no plenário do Senado, dizendo que favorece um caminho à cidadania para alguns dos imigrantes ilegais enquanto rejeita a deportação em massa ou a anistia automática para os ilegais atualmente no país. ¿Os EUA podem ser uma sociedade respeitadora da lei e acolhedora ao mesmo tempo¿, disse. ¿Nós vamos resolver os problemas criados pela imigração ilegal, e vamos montar um sistema seguro, ordeiro e justo¿.

Que ele se encontre em tal posição ¿ sobre um tema de que tem falado tão apaixonadamente desde que se opôs a vozes antiimigração dentro de seu próprio partido como governador do Texas ¿ reflete o poder e a paixão dos que se opõem a uma legislação abrangente. Também sublinha que ele vem para o debate numa posição enfraquecida, particularmente entre os conservadores em seu próprio partido. Pesquisas internas no Partido Republicano mostram que o tema da imigração não é recebido da mesma forma em todos os distritos competitivos, e por isso nenhum dos partidos pode confiantemente prever como esse debate vai refletir nas urnas em novembro. Somando-se à incerteza está a questão sobre que tipo de legislação ¿ se é que alguma ¿ vai no fim das contas emergir do Congresso. A Câmara de Representantes e o Senado agora parecem em rota de colisão, com o Senado de olho numa legislação abrangente que incluiria um caminho para a cidadania de muitos imigrantes ilegais e os deputados republicanos determinados a bloquear qualquer coisa com cheiro de anistia.

DAN BALZ é colunista do Washington Post