Título: NA ROTA DO CONFRONTO
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Fonte: O Globo, 17/05/2006, O Mundo, p. 34

Proposta de Bush sobre imigração reforça oposição entre senadores e deputados

WASHINGTON

Atentativa do presidente George W. Bush de conciliar as divergentes propostas sobre imigração da Câmara de Representantes e do Senado dos Estados Unidos num terceiro plano ¿ que enfatiza tanto o aumento do controle na fronteira pedido pelos deputados como o tratamento mais humano aos clandestinos defendido pelos senadores ¿ causou reações diversas ontem, antecipando a provável dificuldade que enfrentará para ser aprovado.

Em pronunciamento pela TV anteontem à noite, Bush anunciou o envio de seis mil soldados da Guarda Nacional para reforçar o patrulhamento da fronteira com o México, mas, ao mesmo tempo em que se disse contrário a uma anistia aos imigrantes ilegais, propôs medidas que facilitam a obtenção da cidadania por boa parte dos 12 milhões de clandestinos vivendo atualmente no país. O sinal de que o debate à frente será acirrado veio do Senado, que por 55 votos a 40 derrubou ontem uma proposta do senador republicano Johnny Isakson, da Geórgia, tornando a segurança nas fronteiras prioritária sobre outras medidas relacionadas à imigração, no que seria uma derrota para Bush. Mas a ala mais conservadora do partido do presidente não conseguiu arregimentar apoio suficiente no Senado para derrubar a visão predominante na casa: 18 dos 51 senadores republicanos juntaram-se a 36 democratas e a um independente para não deixar a questão da segurança prevalecer no debate.

¿ Temos de ter uma abordagem abrangente se queremos ganhar controle das nossas fronteiras ¿ alegou o senador democrata Ted Kennedy.

Pouco antes da votação, Bush voltara a defender sua proposta sobre imigração.

¿ O programa de trabalhadores temporários casa bem com a segurança nas fronteiras. Não se podem deportar pessoas que estão neste país há um longo período, milhões de pessoas que estão aqui. Por isso temos de ser racionais sobre a forma de seguir adiante ¿ contemporizou.

Na Câmara de Representantes, que em novembro aprovou um projeto de lei focado na segurança, sem qualquer vislumbre de legalização dos clandestinos, houve críticas generalizadas a Bush vindas da ala republicana.

¿ Tentativas veladas de promover a anistia não podem ser toleradas ¿ disparou o deputado Tom Price, da Geórgia, resumindo o sentimento de muitos de que Bush está tentando discretamente abrir caminho para uma legalização em massa dos ilegais.

Grupos alertam para risco de abusos

Para os grupos de defesa de direitos dos imigrantes, botar guardas nacionais na fronteira mexicana vai aumentar o risco de abusos contra os imigrantes ilegais sem frear o fluxo de entrada de clandestinos no país.

¿ Com militares na fronteira veremos um aumento nas violações de direitos civis e humanos ¿ alegou Michele Waslin, diretora de Investigação sobre Política Migratória do Conselho Nacional da Raça. ¿ Há anos tratamos de pôr mais pessoas e mais recursos na fronteira e isso não funciona porque as pessoas continuam vindo. Precisamos de reformas amplas.

Por sua vez, o jornal ¿The New York Times¿ também critica o envio da Guarda Nacional à fronteira, argumentando que isso seria a vitória dos que buscam difundir o medo ao apresentar os imigrantes ilegais como uma ameaça ao modo de vida americano. Já o ¿USA Today¿ considera o plano de Bush um ¿projeto atraente¿. O ¿Los Angeles Times¿ elogiou as propostas, mas pediu que se ataque o problema de forma conjunta.

No México, o envio da Guarda Nacional foi considerado uma militarização da fronteira, causando reações dos políticos e da imprensa.

¿ Eles aumentam os custos sociais e humanos para os imigrantes e só beneficiam os grupos criminosos que fazem dinheiro com a esperança e o sofrimento daqueles que buscam novas oportunidades para si e suas famílias ¿ criticou o candidato presidencial conservador Felipe Calderón.