Título: MP VAI INVESTIGAR SE HOUVE ACORDO ENTRE AUTORIDADES E FACÇÃO CRIMINOSA
Autor: Ricardo Galhardo, Lino Rodrigues e Gelson Neto
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O País, p. 4

Houve uma conversa. Se houver indícios de troca de benefícios, terá inquérito¿

SÃO PAULO e PRESIDENTE PRUDENTE. A Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar se houve algum acordo entre autoridades do estado e chefes de facções do crime organizado. Segundo o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, a Promotoria de Execuções Criminais de Presidente Prudente será a responsável pela investigação e vai se concentrar no conteúdo das conversas mantidas entre os representantes do governo e o líder da facção, Marcos Williams Camacho, o Marcola.

¿ É inegável que houve uma conversa. Mas se houver indícios de troca de benefícios, vamos abrir o inquérito ¿ disse Pinho.

Ele reconheceu que a reação do MP deveu-se às noticias que saíram hoje nos jornais. Pinho havia dito na véspera que não tinha indícios para investigar um suposto acordo. O objeto da investigação é o encontro entre representantes do estado e de chefes do crime organizado dentro do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, no domingo.

Coronel diz que Marcola teria feito algumas exigências

A Polícia Militar, a mando do governador Cláudio Lembo (PFL), cedeu um avião para levar o delegado José Luís Ramos Cavalcante, o corregedor da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado (SAP), Antônio Ruiz Lopes, e a advogada Iracema Vasciaveo, que já defendeu integrantes de facções criminosas e é diretora jurídica da Organização Pública de Interesse Social (Oscip) Nova Ordem, que congrega 15 mil parentes de presos.

O coronel Ailton Araújo Brandão, comandante da PM na região de Presidente Prudente, também participou do encontro com oito chefes do crime organizado, entre eles Marcola, acusado de ter ordenado a onda de terror que já dura cinco dias. Horas depois da reunião os atentados arrefeceram e as rebeliões cessaram quase simultaneamente em mais de 40 presídios do estado, reforçando as suspeitas de acordo.

Além disso, a visita contrariou as normas do regime de disciplina diferenciado (RDD), ao qual estão submetidos os oito presos, já que Iracema não é advogada de nenhum deles.

O MP quer saber se o coronel, o delegado e o corregedor ouviram algo que indique acordo entre governo e presos.

O coronel Brandão afirmou ontem que Marcola teria feito algumas exigências, mas o motivo da visita era outro.

¿ A alegação por parte da advogada é que os presos estavam se rebelando em razão da informação de que Marcola estava sendo maltratado¿ disse o coronel.

Ontem, a advogada admitiu que pode ter sido usada por facções criminosas.

¿ Pode existir a possibilidade de que eu tenha sido usada? Pode. Mas não sei dizer se foi isso o que aconteceu.