Título: POLÍCIA MATA MAIS 22 SUSPEITOS DE ATAQUES
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O País, p. 8

Até agora, 93 pessoas foram mortas por policiais, 55 das quais nas últimas 48 horas; número de presos chega a 122

SÃO PAULO. A reação da polícia de São Paulo contra o crime organizado fez aumentar ontem o rastro de sangue em todo o estado. Em menos de 24 horas, principalmente em meio à madrugada que registrava temperatura de dez graus, mais 22 pessoas suspeitas de terem participado de ataques às bases da polícia foram assassinadas no confronto que já dura seis dias.

Numa ação marcada pelo clima de vingança à morte de 30 policiais entre civis e militares, três guardas metropolitanos e oito agentes penitenciários, a polícia saiu para o revide e o saldo é de 138 mortes, desde sexta-feira, quando uma das principais organizações criminosas do país deu sinal verde para os atentados.

Só de suspeitos de participação na facção já são 93 mortos, na contabilidade da Secretaria de Segurança Pública, 55 dos quais apenas nas últimas 48 horas. O nome dos ¿criminosos¿, como estão sendo fichados, não é divulgado pela polícia.

A guerra urbana contabiliza também 122 presos, além de 134 armas apreendidas nas ações da polícia em bairros de periferia. A julgar pela determinação das autoridades em intimidar os envolvidos com a facção criminosa, o número de assassinatos pode aumentar nos próximos dias. O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, disse ontem que as tropas não deixarão as ruas e nenhum policial terá folga ou licença enquanto a situação não se normalizar.

¿ Vamos continuar firmes, não vamos ser intimidados. Estamos prontos para responder à altura ¿ disse o coronel, que tem dado ordens expressas para que os policiais reforcem a abordagem contra pessoas que estiverem em ¿situação suspeita¿.

Carros da polícia circulam com faróis apagados

Os carros da PM têm circulado, ao menos na capital paulista, com faróis apagados e quatro homens em cada uma, todos armados.

A polícia, porém, tem tentado amenizar o impacto de suas ações nas ruas. O diretor-geral da polícia, Marco Antônio Desgualdo, procurou transferir para a rivalidade entre facções algumas das mortes registradas nos boletins da Secretaria de Segurança:

¿ Essa briga toda que está havendo entre facções pode dar ensejo a algumas coisas.

Perguntado se algumas das mortes divulgadas poderiam não ter ocorrido no confronto com a polícia, o diretor não foi claro:

¿ É uma questão de interpretar o que estou dizendo ¿ disfarçou o dirigente, ontem à noite, numa tumultuada entrevista coletiva.

As últimas 24 horas voltaram a ser marcadas pelo barulho dos tiros em São Paulo. No bairro da Casa Verde, Zona Norte da capital paulista, dois homens numa moto atiraram contra uma viatura da PM que fazia patrulhamento na região. Os policiais revidaram e o rapaz que estava na garupa foi morto com um tiro nas costas. O outro conseguiu fugir. Nenhum dos policiais foi ferido.

Na região da Cohab de Itaquera, na periferia na Zona Leste, a polícia também trocou tiros com dois rapazes que não obedeceram determinação para parar o carro. Os dois rapazes desceram do carro e começaram a atirar contra a viatura da PM. Os policiais revidaram, matando os dois. Todos os mortos estão sendo registrados pela Secretaria de Segurança Público com possível participação na organização criminosa que promoveu os ataques na capital, interior e litoral de São Paulo.

¿Os soldados foram orientados a reagir¿

Criminosos com passagem na polícia também foram mortos no combate com a polícia ontem de madrugada. Assim que entraram num bar no centro da cidade de Poá, policiais foram recebidos a tiros. No tiroteio, dois rapazes que estavam no bar foram mortos. Um outro rapaz, também com passagem por roubo, foi morto ao trocar tiros com PMs que faziam ronda no centro de Poá.

¿ Os soldados foram orientados a reagir, sim. Não podemos esmorecer diante da ação articulada dos criminosos. A sociedade nos pede essa resposta ¿ disse o coronel da PM, que ontem passou o dia em reunião com os comandos seccionais para definir estratégia para o fim de semana. Embora ninguém confirme, as polícias civil e militar estão se preparando para eventuais novos ataques, principalmente no fim de semana.

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