Título: CASAS DE POLICIAIS VIRAM ALVO DE 54 ATAQUES
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O País, p. 10

Ontem, criminosos lançaram bombas também contra escolas, carros da PM e o prédio da prefeitura de Osasco

SÃO PAULO. Os ataques contínuos feitos por integrantes da principal facção criminosa do país não têm como único alvo bases da polícia, ônibus, órgãos da Justiça ou estabelecimentos comerciais. Policiais de São Paulo estão reféns dentro de suas próprias casas. A Secretaria de Segurança Pública informou ontem que dos 281 atentados registrados desde a sexta-feira, 54 deles tiveram como endereço certo residências e prédios onde moram policiais civis e militares.

Até condomínio foi atacado

Para não serem vítimas de novos ataques, soldados, investigadores e até delegados estariam improvisando com os móveis de casa barricadas em frente a janelas e portas para escapar de possíveis tiros. Anteontem, um prédio da CDHU, onde moram 15 famílias de policiais, foi alvejado na madrugada.

¿ Os policiais estão, sim, com receio ¿ admitiu o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges.

Aos subordinados, o coronel tem reclamado da falta de aparelhamento das polícias por parte do governo estadual. Segundo interlocutores, Teixeira Borges tem reclamado que muitos dos criminosos agem com forte armamento, o que intimida a ação policial.

Em meio ao caos, a onda de atentados não parou ontem. Embora em menor proporção que os dias anteriores, os criminosos atiraram e lançaram bombas contra escolas, prédio de prefeitura, viaturas policiais e até contra o escritório da empresa de saneamento básico de São Paulo. Em Osasco, os bandidos provocaram terror na madrugada de ontem. Primeiro, três homens atiraram contra o prédio da Prefeitura, no centro da cidade. Os bandidos estavam num Ômega roubado. Dois deles foram mortos depois de perseguição. Perto dali, dois rapazes numa moto atiraram contra um posto da PM, que estava vazio.

Num revide à ação da polícia, os criminosos decidiram praticar atentados até contra escolas. Em Perus, na zona norte de São Paulo, a escola Cândido Portinari foi atacada a tiros e os criminosos também lançaram coquetéis molotov (bombas caseiras com gasolina) contra o prédio onde estudam adolescentes. O atentado aconteceu na madrugada, mas pela manhã os alunos que chegaram para estudar foram dispensados. Além da precariedade das instalações, a direção da escola temia novos ataques a qualquer momento.

Segundo a Guarda Civil Metropolitana, seis homens com touca ninja invadiram e tentaram arrombar a porta de entrada. Assim que o vigia acendeu as luzes do pátio, os criminosos atiraram oito vezes e jogaram garras de vidro cheias de gasolina tapadas com flanelas. Em depoimentos informais, moradores da região disseram que os criminosos faziam parte da facção criminosa que tem apavorado os mais de 40 milhões de moradores das 645 cidades do estado.

Em São Miguel Paulista, também periferia da capital, policiais militares que faziam o patrulhamento na região surpreenderam um grupo de jovens que atirava contra um prédio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Os policiais foram recebidos a tiros. No revide, um rapaz foi morto.

A polícia não confirmava ontem à noite, mas mais um ônibus teria sido incendiado em São Paulo. Se confirmado, o número oficial de veículos que pegaram fogo nesses seis dias chegaria a 88.

Molotov contra viatura da PM

Uma viatura da Polícia Militar e a casa de um policial foram atacadas na noite de terça-feira em Itapira, no interior do estado. Dois homens em uma moto jogaram um coquetel molotov em uma viatura que estava em frente a uma delegacia da cidade, no bairro Santa Cruz, mas erraram o alvo e conseguiram fugir. Ninguém ficou ferido. Também naquela cidade, a casa de um policial militar foi baleada horas depois por dois homens que estavam em uma moto. Ninguém ficou ferido, mas as marcas de bala ficaram nas paredes. Também no interior, um agente penitenciário foi baleado enquanto estava dentro de sua loja. Dois tiros foram disparados, estilhaçando os vidros da vitrine. O rapaz teve ferimentos leves. No início da noite, uma base militar em Osasco foi também baleada.