Título: TEM SEMPRE UM DIA EM QUE FICAMOS SEM COMER¿
Autor: Carter Anderson e Letícia Lins
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O País, p. 16

No Maranhão, em 18% dos domicílios pelo menos um de seus moradores já passou fome

SÃO LUÍS. No Nordeste, região do país com os piores índices de insegurança alimentar, o Maranhão bate um triste recorde, segundo a pesquisa realizada pelo IBGE em 2004: tem 18% dos seus domicílios em situação de segurança alimentar grave (pelo menos um dos seus moradores passou fome). Trata-se de uma taxa quase três vezes maior do que a média nacional (6,5%) e nove vezes maior do que Santa Catarina, o estado em melhor situação, com 2%.

Uma das vítimas dessa situação, Maxmiana Seguins Diniz, de 36 anos, mãe de oito filhos, tenta alimentar a família com o salário-mínimo recebido pelo marido e o Bolsa Família de R$90.

¿- Mas tem sempre um dia na semana em que ficamos sem ter o que comer ¿ diz.

Maxmiana diz que a fome faz parte do dia-a-dia, mas que se considera com mais sorte do que muita gente que conhece.

¿ Ainda comemos carne de vez em quando ¿ contenta-se a dona de casa.

A filha mais velha de Maxmiana, Laurenisse Diniz, de 12 anos, conta que já se acostumou com a fome:

¿ Quando não tem o que comer, durmo o dia todo ¿ revela a menina.

Segundo dados do Conselho Estadual de Segurança Alimentar (Consea), o Bolsa Família minora as dificuldades de 75% da população de baixa renda do Maranhão. O presidente do Consea, Franklin Douglas, afirma que a fome no Maranhão é resultado de um longo período sem uma política efetiva de combate à pobreza. E aponta a corrupção como um dos principais fatores a emperrar o desenvolvimento do estado.

¿ Estamos tentando fazer o recadastramento do Bolsa Família, mas ainda não atingimos a 50% do total ¿ afirma, acusando as prefeituras de dificultar esse processo.

Douglas cita também como fator de empobrecimento a falta de investimento do governo estadual nas políticas de combate à fome.

¿ O governo do estado não tem programa social e se ancora nos programas federais.

Já o secretário de Agricultura do Maranhão, José de Jesus Sousa Lemos, responsável pelo programa de combate à pobreza, alega que o estado está endividado e que sua capacidade de investimento é pequena. Mas que mesmo assim tem-se dado efetiva atenção no combate à miséria.

¿ Os governos anteriores deixaram uma dívida de R$600 milhões, o que nos engessa ¿ diz.

(*): Especial para O GLOBO