Título: INFLAÇÃO NOS EUA LEVA DÓLAR À MAIOR ALTA EM 3 ANOS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 18/05/2006, Economia, p. 29

Moeda sobe 3,28% e encerra negócios a R$2,205. Risco-Brasil avança 7,9%, para 260 pontos centesimais

Após um dia de trégua, em que o dólar chegou a cair 2,33%, os investidores brasileiros tiveram ontem um dos dias de maior nervosismo no ano. A inflação ao consumidor americano mais alta do que o esperado detonou um clima tenso nos mercados, derrubando as bolsas em todo o mundo e fazendo com que o dólar registrasse, no Brasil, a maior alta percentual em quase três anos. Já o risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, atingiu o maior patamar desde o início de fevereiro.

A moeda americana encerrou os negócios em alta de 3,28%, cotada a R$2,205, a máxima do dia. Foi a maior alta desde 26 de maio de 2003, quando o dólar avançou 3,95% e chegou a R$3,03. Desde o dia 29 de março a moeda americana não era negociada acima dos R$2,20 e, apenas nos últimos sete dias, acumula uma valorização de 6,47%.

O risco-Brasil subiu 7,9%, para 260 pontos centesimais, o maior nível desde 7 de fevereiro (261 pontos). Em sete dias, a alta chega a 21,49%. O Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, caiu 2,06%, cotado a 123,4% do valor de face. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 2,86%.

Apenas a bolsa japonesa encerrou o dia em alta

Ontem, o Departamento do Trabalho americano divulgou que a inflação medida pelo índice ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,6% em abril e que o núcleo (cálculo que exclui as maiores variações de preço) ficou em 0,3%, bem acima das previsões de 0,2%. O resultado alimentou especulações de que os juros americanos ¿ hoje em 5% ao ano ¿ poderiam subir para perto dos 5,5%, o que desestimularia a aplicação em ações no mundo e em ativos de mercados emergentes.

O resultado foi a forte queda das principais bolsas mundiais, num efeito dominó que se estendeu até o Brasil. Nos EUA, o índice Dow Jones caiu 1,88% e o S&P 500, 1,68%. Na Inglaterra, o índice FTSE recuou 2,92% e na França, o índice CAC teve desvalorização de 3,18%. No índice DAX, da Alemanha, a queda chegou a 3,40%. Apenas o índice Nikkei, do Japão, fechou em alta ontem, de 0,92%.

¿ Embora os fundamentos continuem positivos, o mercado brasileiro vai oscilar ao sabor dos indicadores americanos. Na verdade, se os fundamentos não fossem tão bons, teríamos tido hoje um dia bem mais negativo, e não em linha com os demais mercados. Por enquanto, porém, o movimento parece ser passageiro ¿ explica Alexandre Horstmann, sócio da Meta Asset Management.

Segundo Sandra Utsumi, economista-chefe do BES, o mercado ficará agora atento ao índice de gastos pessoais americano (PCE, na sigla em inglês), divulgado na sexta-feira da semana que vem:

¿ O PCE orienta as decisões do banco central dos EUA e, se o núcleo vier acima do esperado, que é 0,2%, podemos ver uma mudança de tendência no mercado, com a consolidação do clima negativo, mas talvez menos histérico do que o de hoje (ontem) ¿ diz.

Até lá, os dias serão de fortes oscilações. Ontem, por exemplo, o índice VIX, do S&P, que mede a volatilidade do mercado e serve como um sinalizador da aversão a risco dos investidores no mundo, atingiu 16 pontos, uma alta de 21,8% em relação à véspera e o mais alto nível desde outubro do ano passado.

HSBC reduz aplicação em ativos do Brasil e do Uruguai

Diante da maior volatilidade do mercado, o banco HSBC decidiu reduzir seus investimentos no Brasil e no Uruguai. ¿Nosso objetivo é reduzir o risco da carteira de mercados emergentes, embora esta ainda seja nossa aposta a longo prazo. Os fundamentos continuam fortes, mas a disposição do mercado em relação ao país também depende da volatilidade global¿, explica o chefe de Estratégia de Renda Fixa para Mercados Emergentes do HSBC em Nova York.