Título: CHINA TEM 200 MILHÕES VIVENDO NA MISÉRIA
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 18/05/2006, Economia, p. 35

Número é dez vezes maior do que o governo admitia

PEQUIM. Apesar do crescimento acelerado, o governo da China admitiu ontem que o país pode ter 200 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo o critério definido pelas Nações Unidas e que leva em consideração as pessoas que sobrevivem com menos de US$1 por dia. Ou seja, um em cada sete chineses hoje é miserável.

O número ¿ que é maior do que toda a população brasileira ¿ é quase dez vezes maior que o critério oficial do governo, que considera miseráveis os 23 milhões de moradores do campo com renda igual ou inferior a 683 yuans (US$86) por ano. Ou US$0,23 por dia. O tema da pobreza foi discutido ontem no 1º Fórum sobre Estratégia para Desenvolvimento Sustentável.

Mas, segundo o próprio Partido Comunista da China (PCC), a estes 23 milhões de moradores se somam 50 milhões de pessoas ¿com renda pouco maior do que o suficiente para comprar roupa e comida¿, além de 28 milhões de pobres urbanos, o que elevaria o número total de chineses pobres a 101 milhões. Os números da ONU apontam o dobro.

Os números foram revelados ao fim do fórum sobre pobreza realizado esta semana na Universidade de Pequim. Diante do quadro, a Associação Chinesa de Desenvolvimento e Combate à Pobreza decidiu criar um fundo para financiar projetos de erradicação da miséria no país, sem determinar prazos ou valores.

¿Entre 2001 e 2005, o governo da China gastou US$7,1 bilhões em ações contra a pobreza, num aumento anual médio de 6%¿, afirmou o vice-presidente da associação, Tian Ruizhang, à agência de notícias estatal Xinhua. ¿Mas o dinheiro não é suficiente¿.

Partido aponta desigualdade na renda do país

O especialista acrescentou que o crescimento econômico, sozinho, não será suficiente para acabar com a pobreza na China. E que a diferença de renda entre a população urbana e a rural está aumentando dramaticamente nos últimos anos.

O processo de enriquecimento da China tem sido extremamente desigual, afirmou o Partido Comunista em editorial no jornal ¿Diário do Povo¿, ao comentar o fórum:

¿Em 1985, a China estabeleceu a renda anual de 200 yuans como o limite para a pobreza absoluta. Essa renda equivalia, na época, à metade da renda média do país, de 400 yuans. Hoje, o limite para a pobreza no país é o piso de renda de 683 yuans, mas este valor é apenas 21% da renda média do país, atualmente em 3.255 yuans (US$412)¿.