Título: REELEIÇÃO SEM CAMPANHA
Autor: Debora Thomé
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O Mundo, p. 36

Com quase 60% de intenções de voto, Uribe deve vencer na Colômbia, já no 1º turno

Em dez dias, no próximo dia 28, os colombianos vão escolher seu novo presidente. Novo não. Ao que tudo indica, Alvaro Uribe, o atual presidente, será reeleito ¿ ainda no primeiro turno ¿ para mais quatro anos no poder. Na última pesquisa, do Instituto Opinómetro, publicada domingo no jornal ¿El Tiempo¿, Uribe aparece com 58,5% das intenções de voto, quase cinco vezes o índice do segundo colocado, Carlos Gaviria, que tem apenas 12,8% das intenções.

As eleições na Colômbia compõem o quadro dos 16 pleitos que estão acontecendo desde dezembro em toda a América Latina. As eleições colombianas, porém, trazem uma diferença bem grande. Para começar, o país não está dando a tal guinada à esquerda, como aconteceu na Bolívia, por exemplo, mas, sim, reelegendo um governo de direita. O presidente implementa uma politica econômica bastante liberal, com reformas nas leis trabalhistas, e está deixando adiantado um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Além disso, não quer nem conversa com o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Apesar da receita, a razão para o sucesso de Uribe é fácil de detectar: sua política bem-sucedida de combate à violência. O país já viveu dias muito mais duros, com seqüestros em seqüência e assassinatos. Ainda que os números da violência continuem ruins, os crimes na capital, Bogotá, e também no restante do país têm caído bastante. Este ano, os colombianos estão comemorando a redução dos seqüestros com caráter político-eleitoral de 507, em 1998, para somente 7.

Nas ruas, segurança é ostensiva

Na Colômbia, há mais de 26 milhões de eleitores, mas o voto não é obrigatório. Mesmo com a não obrigatoriedade e com a vitória praticamente certa de Uribe, muitos eleitores já decidiram votar, como é o caso do taxista Tito Jiménez:

¿ Sou Uribe. Vou votar nele porque foi o único presidente que teve coragem de resolver dois problemas muito sérios na Colômbia: a violência e a corrupção.

Este é o discurso que se ouve por todas as partes. A política de Uribe parece estar agradando tanto que sua campanha tem como slogan ¿Adelante, presidente¿, ou seja: ¿Avante, presidente¿, reforçando a idéia de continuidade de seu governo.

Apesar de os colombianos comentarem o tema, a publicidade eleitoral é pouco ostensiva na cidade e os jornais falam de ¿uma campanha que não aconteceu¿, dada a alta popularidade do presidente. Para um segundo mandato, a proposta de Uribe é chamar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, o principal grupo guerrilheiro do país) para conversar e, na economia, promover políticas para aumentar o crédito.

O segundo colocado, Carlos Gaviria, é um professor alinhado com as idéias de esquerda. Entre suas principais propostas está uma consulta pública para ver se os colombianos concordam ou não com a assinatura do tratado de livre comércio com os EUA. Também propõe cancelar a reforma trabalhista que vem sendo implementada. Aliás, quanto à questão do trabalho, esta também é a proposta do candidato em terceiro nas intenções de voto, Horacio Serpa, um congressista do Partido Liberal pela terceira vez concorrendo à Presidência.

Ontem, protestos de índios, que bloqueiam estradas no sul desde segunda-feira, mostravam que nem todos estão contentes. Funcionários do judiciário saíram ontem às ruas de Bogotá pedindo aumento de salário. Pararam também empregados da indústria do carvão, no norte do país.

¿ Uribe foi muito bom, mas vou votar em Serpa porque ele pretende acabar com a reforma trabalhista. Quando Uribe fez a reforma, dizia que era preciso mudar as leis para ter mais postos de trabalho, mas isso não aconteceu. Sei que Uribe vai ganhar, ele foi muito bom também com a questão da violência ¿ diz o recepcionista Enrique Sarkar, que trabalha na cidade turística de Cartagena.

A verdade é que o policiamento ainda é bastante ostensivo na Colômbia. No aeroporto, quem desembarca é revistado em vários momentos e, em Bogotá sobretudo, a presença do Exército e da polícia é intensa. Há seguranças particulares por todas as áreas: em restaurantes, lojas. Porém, há pouco mais de dois anos era ainda mais intenso. Até os hotéis revistavam a bagagem dos hóspedes.

A questão da violência ocupou por tanto tempo os colombianos que, agora, pelo que indicam as pesquisas, os eleitores preferem não mexer no time que está ganhando. Assuntos como política econômica, saúde, habitação e educação, ainda que apareçam ¿ principalmente no discurso dos candidatos de oposição ¿ não são debatidos com tanto interesse e parecem estar ficando para mais adiante; mais precisamente, para as próximas eleições, daqui a quatro anos.

Com agências internacionais