Título: DESCOBERTA NOVA ESPÉCIE DE MACACO NO BRASIL
Autor: Ana Lucia Azevedo
Fonte: O Globo, 18/05/2006, O Mundo, p. 38

Animal vive nos últimos fragmentos da Mata Atlântica do Nordeste e corre risco de desaparecer em breve

Um macaco dourado e de tamanho bem razoável conseguiu passar séculos oculto na floresta atlântica nordestina até ser finalmente encontrado no fim do ano passado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco. A descoberta da espécie foi anunciada ontem e é uma das mais importantes realizadas nos últimos anos no Brasil.

Em primeiro lugar, macacos estão entre os animais mais estudados do mundo e descobrir uma espécie é sempre excepcional. Além disso, o habitat do novo macaco é a Mata Atlântica ¿ o bioma mais estudado do país ¿ e, justamente, a parte mais ameaçada desta. Ele vive em fragmentos da Mata Atlântica de Pernambuco, da qual restam pouco mais de 2% da cobertura original. A floresta atlântica do Nordeste é a parte mais devastada e vulnerável do bioma no país.

A descoberta reforça também a imensa diversidade de primatas brasileiros. O Brasil é o país com o maior número de espécies de primatas. A última revisão, que será publicada em breve, deve listar 111 espécies, segundo o biólogo Adriano Paglia, da Conservação Internacional. A espécie foi chamada de macaco-prego-louro ou macaco-prego-galego (Cebus queirozi). O macho adulto pesa cerca de três quilos e mede 40 centímetros. O macaco foi identificado durante um inventário numa fazenda em Ipojuca, Pernambuco.

¿ Jamais imaginaríamos ser possível existir um animal novo para a ciência numa floresta tão fragmentada ¿ disse o biólogo Antonio Rossano Mendes Pontes, um dos autores da descoberta.

Cerca de 30 espécimes foram encontrados

Junto com Alexandre Malta e Paulo Henrique Asfora, Pontes descreveu o macaco na revista científica ¿Zootaxa¿.

¿ Encontramos cerca de 30 macacos. É uma população ínfima. O macaco-louro pode ser considerado criticamente ameaçado de extinção ¿ diz Pontes, que coordena o Laboratório de Estudo e Conservação da Natureza da UFPE.

Ele observa que outros grupos isolados podem existir em remanescentes de Mata Atlântica nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.

¿ É preciso reconstituir essas matas e ligar os fragmentos. Sem isso, não só o macaco-prego-louro quanto outros animais da Mata Atlântica do Nordeste não escaparão da extinção ¿ observa o pesquisador, cuja equipe começará agora a buscar outras populações da espécie.

Marcelo Tabarelli, diretor do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste e professor da UFPE, diz que a região onde o macaco foi descoberto chama-se Centro de Endemismo de Pernambuco e tem espécies únicas em todo o planeta.