Título: Dores do parto
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O GLOBO, p. 2

PFL e PSDB anunciam oficialmente no dia 29 a formação da aliança que lançará a chapa presidencial Geraldo Alckmin-José Jorge. A escolha do vice não entusiasmou os tucanos e pode deixar seqüelas dentro do PFL. E o furacão da violência em São Paulo produziu dois focos de insatisfação no PFL que demandam agora a atenção do PSDB. O governador paulista Cláudio Lembo está magoado com a falta de solidariedade tucana e uma ala do PFL não gostou nada do jogo bruto praticado para garantir a escolha de José Jorge.

Na entrevista a Mônica Bergamo na ¿Folha de S. Paulo¿, o sucessor pefelista de Geraldo Alckmin, homem discreto e polido, não esconde a mágoa com os tucanos, nos quais deu estocadas elegantes e ferinas (além de criticar o egoísmo da ¿elite branca¿). Acha que foi abandonado pelos aliados no curso do furacão. Alckmin ligou duas vezes. Irônico, Lembo acrescenta que o pulso telefônico está mesmo muito caro. O antecessor declarou que teria aceitado a ajuda federal, trombando com a opção do governador por resolver o problema com seus próprios meios (meios policiais, pois Lembo continua negando o acordo com a facção criminosa). FH parece tê-lo irritado muito ao criticar o suposto acordo. ¿Para opinar sobre tema tão amargo, tão grave, ele teria que refletir, pensar. E se informar¿. Assim como Serra, FH não telefonou mas governadores de outros estados foram solidários. Lula, destacou, ¿foi muito elegante, me deu muito apoio¿.

A amargura do ocupante do Palácio dos Bandeirantes deve preocupar os tucanos, que ontem tentaram justificá-las. ¿São declarações de um homem altamente estressado, depois de viver grandes tensões¿, disse o líder Arthur Virgílio, que conversou sobre o assunto com FH por telefone. O ex-presidente deve telefonar ao governador explicando suas declarações sobre o tal acordo.

O outro ponto de tensão na aliança foi produzido pela escolha, no voto, do senador José Jorge como vice do tucano. José Agripino seria o preferido ¿in pectore¿ de Alckmin e da maioria dos tucanos mas perdeu por seis votos. Teria na véspera uma vantagem de dez votos, mas ao longo da noite de anteontem teria entrado em ação o rolo compressor das seções do Rio de Janeiro e de São Paulo, dirigidas pelos prefeitos Cesar Maia e Gilberto Kassab, em sintonia com o presidente do partido, Jorge Bornhausen. José Jorge teve todos os votos dos dois estados.

Os tucanos reagiram com o entusiasmo das crianças diante de um prato de espinafre. Ou melhor, de chuchu-com-maxixe, apelido que a chapa ganhou ontem mesmo. Sabem que será bom para a saúde do candidato aceitar a escolha sem discutir. Mas muitos, inclusive o candidato, telefonaram para Agripino, que prometeu suar a camisa do mesmo modo.

Para aumentar a irritação dos aliados de Agripino, Cesar Maia ainda deu uma declaração inamistosa, ao dizer que foi escolhido o vice ideal, discreto e agregador.

Essas dores do parto não seriam nada se a candidatura estivesse indo, mas como anda empacada, devem soar como alerta.