Título: OAB INVESTIGA ADVOGADOS ACUSADOS DE COMPRAR FITA DE CPI DO TRÁFICO
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O País, p. 8

Gravação revelou decisão de transferir chefes do crime de presídio

SÃO PAULO. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai instaurar hoje procedimentos disciplinar e ético no Tribunal de Ética e Disciplina da entidade contra os advogados Sérgio Wesley da Cunha e Maria Cristina Rachado, acusados de comprar do funcionário terceirizado da Câmara dos Deputados Arthur Vinícius Silva a gravação de uma sessão da CPI do Tráfico de Armas.

Na sessão gravada, delegados paulistas revelavam a decisão de transferir os chefes do crime organizado (entre eles Marcos Camacho, o Marcola) de presídios de São Paulo para uma unidade de segurança máxima.

¿ Vamos instaurar o procedimento disciplinar hoje perante o Tribunal de Ética e Disciplina ¿ disse o presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D¿Urso.

O procedimento contra os advogados deveria ter sido instaurado ontem, mas o deputado Moroni Torgan (PFL-CE), presidente da CPI do Tráfico de Armas, remeteu as informações para o Conselho Federal da OAB em Brasília. O procedimento poderá ser aberto em Brasília pela OAB do Distrito Federal.

De acordo com o presidente da OAB-SP, a punição imposta aos dois advogados pode variar de um voto de censura à exclusão dos quadros da entidade, o que os impediria de continuar exercendo a profissão.

Wesley da Cunha nega acusações

Acusado de comprar o depoimento dos delegados, o advogado Sérgio Wesley da Cunha negou tudo ontem. Confirmou apenas que obteve um CD com a gravação das declarações de seu cliente, Leandro Lima de Carvalho, que falou aos deputados da CPI no mesmo dia dos delegados. Mas afirmou que o obteve sem pagar nada, o contrário do que revelou Arthur Vinícius Silva, o operador de som que afirmou ter vendido o material para Cunha e para Maria Cristina Rachado, advogada de Marcos Camacho.

Cunha disse que foi a Brasília semana passada acompanhar o depoimento de Leandro Carvalho à CPI. Quando os delegados começaram a falar ele estava no plenário, mas, com Maria Cristina, foi retirado do local porque os policiais os identificaram como profissionais a serviço de integrantes de uma facção criminosa.

Cunha afirmou que depois que Carvalho depôs pediu ao secretário da CPI, que ele identificou como ¿Sílvio¿ (o secretário chama-se Manoel Alvim), autorização para ter acesso a uma cópia das declarações, o que teria sido autorizado verbalmente. A advogada de Marcola, que Cunha diz não conhecer, fez a mesma solicitação porque, segundo ela, as declarações de Carvalho poderiam ajudar seu cliente uma vez que ele negou pertencer à facção criminosa comandada por Marcola. Cunha garantiu que só teve acesso ao depoimento de seu cliente.

¿ Somos pessoas sérias e responsáveis e gostaríamos que apresentassem o conteúdo dessa fita que gerou tanta controvérsia ¿ afirmou Maria Cristina, que negou ter pago qualquer quantia pelo material.

Sérgio Wesley da Cunha chegou a atribuir a ¿fins eleitoreiros¿ a divulgação de que ele e a advogada de Marcola teriam pago para ter acesso ao depoimento reservado dos policiais.