Título: GOVERNADOR DIZ TER SIDO INFORMADO QUE A ENTREVISTA NÃO ACONTECEU
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O País, p. 9

Lembo afirma que vai à Justiça pedir que esclareça o que ocorreu

SÃO PAULO. O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), disse ontem que a entrevista levada ao ar pelo repórter Roberto Cabrini, da TV Bandeirantes, com Marcos Herbas Camacho, o Marcola, chefe do crime organizado que atua nos presídios de São Paulo, não aconteceu. O governador disse que vai à Justiça pedir esclarecimento sobre a entrevista.

¿ Em primeiro lugar, afirmo que não houve (a entrevista). Segundo, o Estado de São Paulo vai, pela sua Procuradoria Geral, tomar uma atitude com o Poder Judiciário ¿ afirmou Lembo.

Perguntado se o repórter poderia ter falado por celular com algum preso, o que implicaria uso de telefone celular, proibido nos presídios, o governador afirmou que não sabia, mas "todos", referindo-se à sua equipe de segurança pública, afirmam que a entrevista não existiu.

¿ Não sei. Todos dizem que não, que não houve nada, nenhuma informação. Portanto, o Poder Judiciário vai esclarecer ¿ disse.

O governador, que assumiu com a renúncia de Geraldo Alckmin para disputar a eleição para presidente da República pelo PSDB, afirmou que está satisfeito com o desempenho dos secretários de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e Nagashi Furuykawa, da Administração Penitenciária, e da cúpula da polícia durante a megarrebelião nos presídios estaduais e os ataques do crime organizado:

¿ Tenho satisfação, sim. Mais que isso, eles me honraram como cidadãos e como policiais. Acho que foi uma equipe notável, que nos momentos mais difíceis mostrou grande eficiência. Mais do que isso, um grau de informação que, confesso, me surpreendeu.

Perguntado se as autoridades da área seriam mantidas, mesmo com a crise, Cláudio Lembro foi taxativo:

¿ Claro que sim. Se quiserem, eles vão ficar. Tenho muito respeito, muita admiração, e volto a dizer que eles foram de uma eficiência e uma capacidade notáveis.

Ele negou que a Promotoria do Ministério Público do Estado (MPE) tenha pedido o afastamento do secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, mas sim uma investigação:

¿ Nunca pediu. Eles pediram uma sindicância, uma averiguação sobre o episódio de Presidente Bernardes, quando se ouviu que a advogada conversou com esse senhor que eu não digo o nome (Marcos Herbas Camacho, o Marcola). Mas ele (MPE) não pediu isso e nem teria autoridade para pedir. Porque seria ingresso do Ministério Público na área do Executivo. Porém, acho muito boa a averiguação.

Lembo foi taxativo também quando pediram que desse uma nota para o desempenho da cúpula da polícia e da Administração Penitenciária em meio à crise.

¿ Dez com louvor!

Comentando declarações do diretor do Departamento de Investigações Contra oi Crime (Deic), Godofredo Bittencourt, de que a violência se organizou dentro do presídio, o governador de São Paulo procurou amenizar as divergências que existem na área:

¿ Acho que há visões de mundo diferentes. Se todos fossem unânimes numa situação tão complicada nessa área da segurança, seria perigoso para o estado. Vou fazer uma reunião entre todos e vamos ver a visão de cada um, analisar, refletir e avançar.

As autoridades, na sua avaliação, tiveram coordenação nas ações, mas terão a oportunidade de expor suas divergências.

¿ Agiram de forma coordenada durante a crise. Agora vão ter a oportunidade de expor. Aqui não é um regime autoritário.

* do Diário de S.Paulo