Título: HUMAN RIGHTS WATCH EXIGE INVESTIGAÇÃO
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O País, p. 13

Policiais paulistas sob suspeita de praticar execuções sumárias

SÃO PAULO. A organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch, baseada nos Estados Unidos, exortou o governo de São Paulo a assegurar a investigação independente e imparcial das mais de cem mortes registradas pela polícia nos recentes confrontos entre as forças de segurança e a facção criminosa no estado ou em situações ainda não totalmente explicadas.

A organização quer o esclarecimento das circunstâncias em que ocorreram as mortes, sobretudo das dezenas de acusados de pertencerem à facção. Alegações relatadas na imprensa e apresentadas à Ouvidoria de Polícia sugerem que muitas das mortes podem ter sido execuções sumárias praticadas por policiais e que algumas das vítimas eram pessoas inocentes.

¿ A completa investigação de todas as mortes é crucial para estabelecer a verdade e manter a confiança da população na polícia ¿ disse Paulo Mesquita, representante da Human Rights Watch no Brasil. ¿ O estado deve assegurar investigações independentes que sejam capazes de levar a denúncias efetivas e processos judiciais, independentemente de quem sejam os agressores.

¿Ataques a policiais não justificam execuções sumárias¿

Segundo a polícia, as 138 vítimas incluem 41 policiais e agentes penitenciários e pelo menos quatro civis. Trinta e oito suspeitos de tomarem parte nos ataques foram mortos entre a noite de segunda-feira e a manhã de terça-feira, quando a polícia retomou o controle da cidade. Há relatos de mais 22 mortos na quarta-feira, o dia seguinte à declaração do comandante-geral da polícia militar de que ¿a caça continua¿.

¿ Ataques hediondos contra policiais ou civis não podem justificar execuções sumárias pela polícia ¿ completou Paulo Mesquita.

Rebeliões em prisões e ataques coordenados a policiais aconteceram antes em São Paulo e foram atribuídos a uma organização criminosa que surgiu no interior do sistema penitenciário em 1993, depois que 111 prisioneiros morreram durante uma operação policial para conter uma rebelião, conhecida como Massacre do Carandiru, em outubro de 1992. Em março de 2002, mais de cem policiais participando da Operação Castelinho, emboscaram um ônibus numa estrada nas proximidades de Sorocaba, cidade no interior do estado de São Paulo, e mataram 12 pessoas, supostamente membros da facção. Em dezembro de 2003, o Ministério Público acusou 53 policiais que participaram da operação por crime de homicídio.