Título: PF: SUSPEITA DE LAVAGEM CONTRA JANENE
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O País, p. 16

Dinheiro de valerioduto pode ter sido usado em casa de mil metros quadrados

LONDRINA. O dinheiro que o deputado José Janene (PP-PR) recebeu do valerioduto ¿ R$4,1 milhões, como constatou a CPI dos Correios ¿ pode ter sido utilizado na construção de uma casa de mil metros quadrados e na compra de uma propriedade rural, entre outros bens. A informação foi dada pela Polícia Federal, que cumpriu hoje nove mandatos de busca e apreensão em Londrina, São Paulo e Barueri.

A operação, ordenada pela 2ª Vara Criminal Federal de Curitiba, visava a obter provas de lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro, nos quais estariam envolvidos a esposa e dois funcionários de Janene. As investigações tiveram início em 2004 por determinação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Banco Central.

Segundo o delegado Gerson Machado, responsável pelas investigações, Rosa Alice Valente, assessora do deputado, e seu marido, Meheidin Hussein Jenani ¿ primo de Janene que administra suas fazendas ¿ movimentaram valores muito acima de seus rendimentos. A mesma suspeita recai sobre a esposa do deputado, Stahel Fernanda, proprietária de vários imóveis.

De acordo com a PF, há indícios de que Rosa e Jenani forneceram dinheiro para Stahel Fernanda adquirir propriedades, que incluem dois terrenos num condomínio de luxo ¿ onde foi construída uma casa estimada pela PF em R$2 milhões ¿ e 10 alqueires em Faxinal, norte do Paraná. Um cheque de Rosa, no valor de R$9 mil, foi dado como parte do pagamento dessa propriedade no mesmo dia em que ela recebeu um depósito da corretora paulista Bônus-Banval, utilizada para liberar recursos do valerioduto aos deputados do PP. A propriedade foi adquirida por R$120 mil, dos quais R$110 mil pagos em dinheiro, embora tenha sido escriturada pelo valor de R$60 mil.

Segundo o delegado, as contas de Rosa e de Jenani receberam recursos de outras empresas que estão sendo investigadas, como a Taha Administração e Construção, de São Paulo, que teve documentos apreendidos hoje. A operação se estendeu a uma empresa de contabilidade e a um escritório de advocacia ligados a Taha, que, de acordo com a PF, já teve como sócio Naji Najas. A empresa tem hoje 99% de suas ações em poder de uma off-shore sediada no Panamá, a Quirckline, que efetuou depósitos nas contas de Jenani.

O delegado da PF ressalvou que a investigação não envolve Janene, pois ele desfruta de foro privilegiado. O advogado do deputado disse que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal contra a Justiça Federal e a Polícia Federal por terem agido de maneira arbitrária contra seu cliente.