Título: SANGUESSUGA: MAIS DEPUTADOS SÃO SUSPEITOS
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O País, p. 17

Investigações revelam que outros nove parlamentares podem ter recebido propinas de R$700 a R$50 mil

BRASÍLIA. A análise do CD-rom entregue pela Polícia Federal e o cruzamentos das listas existentes no livro contábil da empresa Planam ¿ feitos até agora pelas corregedorias da Câmara e do Senado ¿ indicam que a lista de investigados deverá subir para 24 deputados.

De acordo com levantamento da Comissão de Sindicância da Câmara, além dos primeiros 16 investigados, outros nove deputados aparecem na lista de pagamentos da Planam, com nome e número de conta bancária ao lado de valores que variam de R$700 a R$50 mil. Alguns com vários pagamentos.

Caso mais expressivo é o de Nilton Capixaba

O nome de Ricarte de Freitas(PTB-MT) poderá ser retirado da lista. Ontem, o deputado licenciado Lino Rossi (PSDB-MT) entregou um documento à Corregedoria, admitindo que era ele, e não Ricarte, que aparece numa conversa com a ex-servidora do Ministério da Saúde, Maria da Penha Lino, falando sobre dinheiro.

Segundo investigadores, são três listas da Planam: uma de acompanhamento de projetos e emendas, com a senha das prefeituras; uma segunda de pagamentos diversos; e uma terceira de contas a pagar, com o número da conta dos deputados. O caso mais expressivo é o do segundo secretário da Mesa, Nilton Capixaba (PTB-RO), que forneceu sua senha exclusiva para os proprietários da Planam, e aparece como beneficiário de pagamentos em todas as listas. Ele e mais sete deputados que ainda não constavam da investigação da Sindicância, passarão a ser investigados.

¿ Se o deputado aparece numa lista com conta bancária e senha já é grave. Se esse mesmo deputado aparece também na lista de pagamentos é muito mais grave ainda ¿ declarou um dos membros da Comissão de Sindicância que analisa os documentos da PF.

Capixaba passou a tarde de ontem trancado em uma das salas da Corregedoria, fugindo da imprensa. Um de seus assessores está preso, acusado de planejar o assassinato de um jornalista com um dos donos da Planam.

Como Capixaba, aparecem na lista de contas a pagar os deputados João Caldas (PL-AL), quarto secretário da Mesa; Lino Rossi; Pedro Henry (PP-MT); Tetê Bezerra (PMDB-MT); Benedito Dias (PP-AP); Cabo Júlio (PMDB-MG); Íris Simões (PTB-PR) e Almerinda Carvalho (PMDB-RJ). O ex-líder do PSB Paulo Baltazar (RJ) já estava na lista de investigados da Corregedoria.

¿ Os documentos são muito mais complexos do que imaginam. Estamos fazendo o cruzamento praticamente manual dessas listas, com uma atenção e cautela muito grandes para dar uma resposta á sociedade o mais rápido possível . Se são 283 deputados envolvidos ou não, só poderemos dizer quantos são e quem são, no final. O que posso dizer é que a lista dos 16 investigados vai crescer ¿ explicou o relator da Comissão de Sindicância, deputado Robson Tuma (PFL-SP).

Corregedoria apura relação com máfia de ambulâncias

Ainda aparecem nessa lista os nomes do ex-presidente do PTB Luiz Carlos Martinez, já falecido, e o do ex-deputado Laire Rosado. Como Rosado é marido da deputada Sandra Rosado (PSB-RN), a Corregedoria vai investigar a possibilidade de uma ponte entre ex-deputado e a mulher no envolvimento com a máfia das ambulâncias.

¿ O que mais assusta é que era propininha, muita coisa de R$700 e R$800. Mas também tinham valores de R$10 mil, R$25 mil e até R$50 mil. Os assessores declararam que faziam mesmo, mas a mando do deputado ¿ revelou outro integrantes da Comissão de Sindicância da Corregedoria.

No Senado, além do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), o corregedor Romeu Tuma (PFL-SP) anunciou que a senadora Serys Schereslenko (PT-MT) aparece em uma das listas do livro contábil da Planam, embora seja citada como deputada. Como o livro contábil se refere a transações realizadas desde 2001, quando ela era deputada estadual, será incluída nas investigações.