Título: `Esperamos que a Justiça chilena autorize a extradição¿
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O Mundo, p. 31

BUENOS AIRES. Ontem foi um dia difícil para os advogados do Estado peruano que trabalham no processo de extradição do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). A decisão do Supremo Tribunal chileno pegou todos de surpresa, mas não abalou a confiança da equipe de advogados peruanos. ¿Nossa preocupação é o risco sempre latente de fuga, que agora passa a ser muito maior¿, disse ao GLOBO o diretor da Unidade de Extradições da Procuradoria ad hoc do Caso Montesinos-Fujimori, Iván Montoya, por telefone, de Lima.

A resolução do Supremo Tribunal de Justiça chileno caiu como um balde de água fria no seu país?

IVÁN MONTOYA: Nós sabíamos que existia a possibilidade de que os advogados de Fujimori apresentassem um terceiro pedido de liberdade condicional, mas nos surpreendeu a decisão da Justiça chilena. Há apenas dois meses e meio, outra sala do Supremo Tribunal chileno disse exatamente o contrário, disse que Fujimori representava um perigo para sociedade chilena e que por essa razão não podia ser libertado. Achamos que essa decisão seria confirmada.

O Estado peruano teme uma eventual fuga de Fujimori?

MONTOYA: Sim, claro. Não nos preocupa o impacto que a sentença de hoje (ontem) possa ter no processo de extradição. Não existe qualquer risco nesse sentido. Nossa preocupação é o risco sempre latente de fuga, que agora passa a ser muito maior.

Se Fujimori pedir asilo à embaixada do Japão, o que aconteceria com o processo de extradição?

MONTOYA: Fujimori não está sendo custodiado pela polícia e poderia, perfeitamente, refugiar-se na embaixada japonesa. Se ele fizer isso, a coisa ficaria mais complicada porque ele estaria num território no qual não poderia ser aplicada a jurisprudência local. Nesse caso, teríamos de avaliar a situação. Se o Japão concedesse o asilo, deveria ser solicitado um salvo conduto para que Fujimori pudesse sair do país e essa decisão dependeria do governo chileno.

Agora ele poderá caminhar livremente pelo Chile?

MONTOYA: Sim, ele pode percorrer o país se quiser.

O Estado peruano vai pedir algum tipo de controle dos movimentos de Fujimori?

MONTOYA: A Justiça chilena ainda deve decidir as condições desta liberdade condicional. Esperamos que sejam adotadas todas as medidas necessárias para impedir sua fuga.

Como continua o processo?

MONTOYA: Deve ser encerrada a parte principal do processo de extradição. Esperamos que nas próximas semanas termine a fase de investigação e passemos à fase do debate oral. Nosso objetivo é que antes do fim de julho a Justiça chilena autorize a extradição de Fujimori.

Apesar do revés sofrido hoje (ontem), o Estado peruano está confiante?

MONTOYA: Hoje (ontem) não foi um dia de derrota, porque nossas provas continuam sendo tão contundentes como antes. Esperamos que a Justiça chilena autorize a extradição de Fujimori. Os 12 casos apresentados aos juízes chilenos são sólidos, sobretudo os casos de violação dos direitos humanos. (Janaína Figueiredo)