Título: PERU TEME QUE FUJIMORI, SOLTO NO CHILE, FUJA DE NOVO
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O Mundo, p. 31

Ex-presidente consegue liberdade condicional, em duro revés para governo

OSupremo Tribunal de Justiça chileno concedeu ontem a liberdade condicional ao ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000), preso no Chile desde novembro de 2005, por quatro votos a favor e um contra. A medida representou um duro revés para o governo do presidente peruano Alejandro Toledo, que solicitou a extradição de Fujimori ano passado. O ex-presidente, de 67 anos, responde em seu país a mais de 20 processos por acusações que vão de abuso de poder e corrupção a conivência com esquadrões da morte e violação dos direitos humanos. O maior medo dos advogados do Estado peruano é de que Fujimori fuja do Chile e consiga, mais uma vez, escapar da Justiça.

Político paga fiança de R$6 mil

Após pagar uma fiança de US$2.830 (R$6 mil), o ex-presidente peruano abandonou a Escola de Polícia de Santiago no fim da tarde de ontem, acompanhado por seus advogados chilenos Gabriel Zaliasnik e Francisco Veloso.

¿ Obviamente estou satisfeito, feliz pela decisão do Supremo Tribunal. Estou saindo da Escola de Polícia nas mesmas condições nas quais entrei, graças a minha confiança e paciência. Viajei por minha iniciativa ao Chile. Fugir está totalmente descartado ¿ disse Fujimori, sorridente.

Segundo informações extra-oficiais, o ex-presidente foi levado para uma casa alugada no bairro de Las Condes, zona nobre de Santiago, onde foi recebido por parentes e amigos, entre eles sua mulher, Satomi Katakoa.

¿ Obrigado Chile ¿ afirmou o ex-presidente, que antes de ser preso pretendia concorrer a um terceiro mandato em seu país.

Em Lima, os candidatos à Presidência Alan García e Ollanta Humala, que no próximo dia 4 de junho disputarão o segundo turno, tentaram minimizar a eventual influência de Fujimori na reta final da campanha.

¿ Não acredito que Fujimori vá intervir diretamente no processo eleitoral. Não devemos nos alarmar ¿ declarou o ex-presidente García, que durante o governo Fujimori exilou-se primeiro na Colômbia e depois na França, em meio a denúncias de corrupção.

Já o líder do movimento nacionalista União pelo Peru pediu aos peruanos que ¿não politizemos este assunto, temos de esperar uma decisão do Judiciário (chileno)¿. Em janeiro de 2000, Humala liderou uma fracassada tentativa de golpe de Estado contra o governo Fujimori.

A filha mais famosa de Fujimori, a congressista Keiko Sofia, candidata mais votada nas eleições legislativas de 9 de abril, mostrou-se feliz pela libertação de seu pai e assegurou que viajaria para o Chile para encontrá-lo. Keiko foi uma das revelações das eleições de abril, apesar das gravíssimas acusações contra o governo Fujimori. A ex-candidata à Presidência pelo movimento fujimorista Aliança para o Futuro (AF) Martha Chávez também manifestou sua satisfação:

¿ Fujimori quer voltar para o Peru para enfrentar a Justiça.

Justiça investiga 12 denúncias

Os advogados da defesa de Fujimori disseram que a decisão do Supremo Tribunal chileno ¿representa o reconhecimento de uma garantia constitucional¿. O ex-presidente já havia solicitado a liberdade condicional em fevereiro, mas o pedido foi negado pelo juiz Orlando Álvarez, encarregado do processo de extradição.

A Justiça chilena está estudando 12 denúncias contra o ex-presidente, entre elas as acusações sobre a responsabilidade de Fujimori nos massacres de Barrios Altos e La Cantuta, obra do sinistro Grupo Colina, esquadrão da morte de atuou durante o governo do ex-presidente. Ontem, a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos do Peru emitiu um comunicado repudiando a decisão da Justiça chilena.

¿ Pedimos aos governos do Chile e do Peru que adotem todas as medidas necessárias para evitar a fuga de Fujimori ¿ disse ao GLOBO a porta-voz da entidade, Erika Bocanegra.

Para o advogado Ronald Gamarra, ex-promotor encarregado do processo de extradição, o ex-presidente usará, novamente, seu vínculo com o Japão para tentar evitar seu julgamento no Peru.

¿ A extradição está em risco ¿ enfatizou Gamarra.