Título: TROPAS BRASILEIRAS NO HAITI ENTRAM EM COMBATE COM GANGUES REBELDES
Autor: Luis Kawaguti
Fonte: O Globo, 19/05/2006, O Mundo, p. 32

Forças da ONU ocuparam favela de 250 mil habitantes na capital

PORTO PRÍNCIPE. Tropas brasileiras da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) iniciaram na quarta-feira, sob tiroteio pesado, a ocupação da favela de Cité Soleil, na capital Porto Príncipe ¿ último reduto no Haiti dos rebeldes leais ao ex-presidente Jean-Bertrand Aristide. O conflito aconteceu três dias após a posse do novo presidente, René Preval. Não houve feridos entre as tropas do Brasil. O número de baixas rebeldes é desconhecido.

A decisão sobre a ocupação de Cité Soleil pelos brasileiros partiu do general de divisão José Elito Carvalho Siqueira, comandante das forças da ONU no Haiti. Controlada por 22 líderes de grupos armados, a favela tem 250 mil habitantes vivendo em seis quilômetros quadrados. Não há energia elétrica. O Brasil já havia ocupado e pacificado com sucesso no ano passado a favela de Bel Air, de 500 mil habitantes. Segundo o coronel Edivaldo Barbosa Rodrigues de Souza, oficial de operações do Batalhão Haiti, a idéia dos rebeldes era intimidar e testar os brasileiros logo na primeira noite.

¿ Não podemos ter um local em Porto Príncipe onde a tropa da Minustah não possa entrar ¿ afirmou.

Mais ataques são esperados nos próximos dias

A região já esteve sob responsabilidade de fuzileiros navais do Brasil no início da missão, em junho de 2004. No entanto, passou às mãos de militares jordanianos em dezembro de 2005. Sem equipamentos adequados, eles não foram capazes de pacificar a favela desde então.

A ocupação começou por volta das 6h de quarta-feira (7h em Brasília). Fuzileiros da 12ª Brigada Aerotransportada, de São Paulo, e do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, do Rio de Janeiro, entraram na favela a bordo de blindados Urutu, armados de metralhadoras pesadas, fuzis e granadas de efeito moral. Militares da cavalaria da 11ª Brigada, de Pirassununga, em São Paulo, realizaram patrulhas em blindados durante todo o dia. O combate principal só ocorreu às 21h30m.

Protegidos pela escuridão, os chimères ¿ seguidores de Aristide ¿ começaram o ataque com rajadas de fuzil e metralhadora contra os brasileiros instalados na caixa d¿água de Cité Soleil. Um pelotão de cerca de 30 militares baseados no mercado abandonado passou a disparar com atiradores de elite. Em minutos, o mercado se tornou alvo de centenas de tiros vindos de quase toda a favela. Mais ataques chimères são esperados nas próximas noites.

*Do Diário de S. Paulo