Título: MP RECORRE PARA EVITAR SEPULTAMENTO DE MORTOS AINDA NÃO IDENTIFICADOS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 20/05/2006, O País, p. 4

`É um número exagerado de mortes e chega a ser pior que os 111 do Carandiru¿

SÃO PAULO. Numa tentativa de evitar que suspeitos de terem participado da onda de atentados em São Paulo sejam enterrados sem identificação ou passar por perícia, a Defensoria Pública e o Ministério Público Federal vão entrar hoje com pedido no 1º Tribunal de Júri para que os sepultamentos de pessoas nessas situações sejam suspensos. Só na capital 17 corpos estão nas geladeiras do Instituto Médico-Legal (IML) esperando o reconhecimento da família. Defensores públicos e procuradores federais dizem que, sem identificação, as investigações ficam prejudicadas.

¿ Vamos pedir ainda que o IML transfira corpos para outras cidades caso o instituto continue alegando que eles precisam ser enterrados porque não há lugar para guardá-los ¿ disse Carlos Weis, da Defensoria Pública.

No ofício assinado pelo subdefensor Vitore Maximiano e pelos procuradores federais Eugênia Fávero, Adriana da Silva Fernandes, Sérgio Suyama e Luiz Fernando Gaspar Costa, pede-se ainda que os corpos à espera de identificação em cidades do interior e litoral também sejam identificados e periciados antes dos sepultamentos.

Diante da suspeita de que pode ter havido excessos na ação da PM contra pessoas que teriam participado dos ataques em São Paulo, o Ministério Público estadual (MPE) pretende reconstituir as ações policiais que resultaram na morte de 107 homens nos últimos sete dias. A medida é necessária, segundo o MP, caso os resultados de exames feitos nos corpos não sejam suficientes para produzir provas para investigações. Os promotores não descartam ouvir parentes dos que morreram no confronto com a polícia.

¿ É um número exagerado de mortes e chega a ser pior do que os 111 que morreram no Carandiru, pois aquela foi uma ação concentrada num único local. Agora as mortes são espalhadas por todos os cantos ¿ diz o assessor para assuntos de direitos humanos do MP, Carlos Cardoso.

Ele pretende entrar com pedido oficial para ter acesso à lista com os 107 nomes.

Num ato promovido pelas comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e da Assembléia Legislativa de São Paulo, Cardoso não descartou que a matança possa ter sido provocada pelo sentimento de vingança por parte de policiais. Desde a sexta-feira passada, 41 policiais foram mortos na onda de atentados.