Título: DOIS DELEGADOS PRESOS POR PROSTITUIÇÃO INFANTIL
Autor: Ana Paula de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/05/2006, O País, p. 18

No Paraná, eles e mais nove policiais são acusados de aliciar crianças em escolas e cobrar propina de criminosos

CURITIBA. Foram presos ontem no Paraná 11 policiais civis, entre eles dois delegados, seis investigadores, dois agentes administrativos e um escrivão, todos acusados de envolvimento em um esquema de exploração sexual infantil, que utilizava a internet como ponto de partida.

¿ Essa foi a maior operação de combate à corrupção do Estado do Paraná, que resultou, de uma só vez, na prisão de policiais civis e coincide com nosso compromisso de limpeza ética e moral na polícia do Paraná ¿ declarou o secretário de Segurança Pública, Luiz Eduardo Delazari.

A investigação, que durou menos de 30 dias e envolveu a Corregedoria da Polícia Civil, a Polícia Militar e a Patrulha Escolar, com participação do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), conseguiu identificar o esquema dos policiais. Eles vão continuar presos e são acusados dos crimes de concussão (extorsão feita por funcionário público), formação de quadrilha, atentado violento ao pudor, exploração sexual infantil e corrupção de menores.

Todos os envolvidos serão submetidos a processos administrativos e criminais.

¿ Esperamos uma pena dura, já que são crimes odiosos. Também serão processados pela Corregedoria e não vejo outro caminho a não ser a rua ¿ disse o delegado.

Crianças aliciadas nas escolas por até R$100

Por meio da internet, uma agenciadora, que foi identificada mas ainda está foragida, oferecia aos interessados fotos e encontros com as crianças. Um menor era responsável por se infiltrar nas escolas públicas da capital paranaense, que aliciava as crianças por R$50 a R$100 para os encontros.

O secretário descreve que a agenciadora marcava os encontros em hotéis ou em seu próprio apartamento, para onde as crianças se dirigiam. Em uma falsa batida, os policiais civis invadiam o local, muitas vezes com câmeras de vídeo e máquinas fotográficas para dar maior veracidade à ação.

¿ Alguns clientes chegavam até a serem levados para as delegacias, mas a maioria era intimada a pagar propina para que seus nomes não fossem indiciados ¿ conta Delazari.

A extorsão, segundo o delegado, variava de R$5 mil a R$30 mil, pagos no ato do falso flagrante.

A exploração sexual infantil, cujo dia nacional de combate foi lembrado na quinta-feira, mostra que a Região Sul é a terceira do país com o maior número de cidades que registram exploração sexual de crianças e adolescentes, com 17,3% de participação. São 162 cidades na região Sul, sendo 56 somente no Estado do Paraná.

Em reportagem do GLOBO realizada em março deste ano, foi retratada a situação da exploração de menores na capital paranaense e também na região de Paranaguá, onde é grande o fluxo de caminhoneiros e de profissionais ligados ao Porto de Paranaguá. Na capital e em Paranaguá, menores propõem programas a R$1,99 e recebem clientes à luz do dia sem nenhuma presença do poder público.

* Especial para O GLOBO