Título: GENOINO ADMITE ERROS E ANUNCIA A VOLTA
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 20/05/2006, O País, p. 19

Ex-presidente do PT faz autocrítica em carta, mas deixa de fora referências ao mensalão

Com uma carta endereçada aos petistas, o ex-presidente do PT José Genoino rompeu o silêncio auto-imposto nos últimos meses e anunciou a volta à vida pública. Apontado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como um dos chefes da ¿sofisticada organização criminosa¿ criada para manter o PT no poder, Genoino usa apenas uma vez a palavra ética no texto de quatro páginas. Não para fazer autocrítica, mas para denunciar objetivos da oposição no embate político:

¿Não nos enganemos! As motivações dessas denúncias não são a ética nem o desejo de combater a corrupção e dotar a política de regras mais transparentes. (...) Trata-se, na verdade, de uma disputa radical entre dois projetos políticos antagônicos¿, escreve o petista.

Genoino reconhece erros cometidos nos 30 meses como presidente do PT. Afirma que o partido se iludiu no poder, subestimou adversários, descuidou de bandeiras históricas e deixou em segundo plano a agenda partidária, privilegiando a agenda do governo Lula.

Também admite que nas eleições de 2004 o PT cometeu seu maior erro, na questão do financiamento das campanhas. Mas não entra em detalhes sobre os repasses a partidos aliados. A palavra mensalão não é citada.

Petista promete voltar mais experiente e menos ingênuo

¿Preponderou a lógica de que a única alternativa política possível era uma grande e indiscutível vitória eleitoral. O projeto nacional foi, então, submetido às lógicas regionais. (...) Isso acabou gerando uma visão exageradamente pragmática das alianças, algumas, inclusive fora dos critérios e perfil definidos pelo Diretório Nacional¿.

Ele afirma que ao aceitar a presidência do partido explicitou que sua atuação seria política e não incluiria administração ou finanças. Por isso, defende-se das acusações da CPI dos Correios e do Ministério Público afirmando que só aparece nas investigações pelo cargo.

¿Não há fato algum no relatório da CPI ou naqueles relacionados, ou em notas de rodapé ou em depoimentos, pelo Ministério Público, que me atingem como prova material¿, escreve.

Na carta, Genoino diz que a investigação de atitudes de petistas foi transformada em espetáculo para criminalizar o partido. Para ele, os erros devem ser tratados no âmbito político, não no criminal.

Sobre os dólares na cueca de um assessor do irmão, o deputado estadual José Guimarães Nobre, do Ceará, diz: ¿Minha relação com o episódio do dinheiro encontrado com o assessor de meu irmão é simplesmente essa : a de ser irmão. Não existe nenhuma outra vinculação¿.

Genoino enumera feitos do governo Lula, que chama de modelo e alternativa política relevante ao neoliberalismo. Despede-se com a promessa de voltar à militância com mais experiência e menos ingenuidade.