Título: DÍVIDA EXTERNA CAI AO MENOR NÍVEL EM DEZ ANOS
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 20/05/2006, Economia, p. 39

Recompra de títulos negociados no exterior e pagamento adiantado fizeram valor recuar a US$161,8 bi em abril

BRASÍLIA. A dívida externa brasileira recuou para o menor patamar em mais de dez anos. Por causa da recompra dos bradies (títulos da renegociação do calote da dívida externa na década de 1980), no valor de US$6,459 bilhões, fechou abril em US$161,862 bilhões, o menor nível desde dezembro de 1995, quando ficou em US$153,065 bilhões, informou ontem o Banco Central (BC). Não por menos, a dívida externa do setor público não-financeiro, que exclui bancos e outras instituições do setor, é a menor desde o início da série histórica, em 1990: US$76,1 bilhões.

¿ A dívida externa diminuiu significativamente e mostra a estratégia do governo de recompra dos bradies ¿ afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, acrescentando que a redução também se deve aos pagamentos adiantados ao Clube de Paris, que até agora somam US$1,903 bilhão.

Ele destacou ainda que, além da redução da dívida, o perfil do débito está melhorando, tanto no setor privado quanto no público. A taxa de rolagem global, por exemplo, acumula no ano até abril 331%, também com prazos mais longos. Segundo ele, entre os dias 1º e 16 deste mês, a taxa já está em 114%. Esse indicador mostra que não só empresas e governo aumentaram os prazos dos financiamentos que já tinham como captaram novos recursos.

Por outro lado, as transações correntes do país continuam sofrendo com as elevadas remessas de lucros e dividendos para o exterior, que somaram US$1,609 bilhão em abril, acima do US$1,284 bilhão verificado no mesmo mês de 2005. Neste ano, já acumulam US$5,217 bilhões. Por causa disso, o superávit das contas correntes ¿ todas as operações do país com o exterior, como balança comercial e pagamento de juros ¿ ficou em US$241 milhões em abril, bem aquém do US$1,353 bilhão registrado em fevereiro e da expectativa do BC, de saldo de US$500 milhões.

BC mantém previsão de superávit de US$8,5 bi

Mesmo assim, a autoridade monetária mantém os cálculos de encerrar o ano com superávit de US$8,5 bilhões. Para maio as projeções são de US$600 milhões. Na avaliação de Lopes, o envio de lucros e dividendos deve perder força no segundo semestre, mas ainda continuará acima dos patamares do passado por causa do câmbio depreciado (dólar mais fraco em relação ao real) e da maior rentabilidade das empresas. Em maio, até o dia 16, os envios já estavam em US$1,149 bilhão.

Do lado positivo, continuou ajudando nas transações correntes a balança comercial, que ficou com superávit de US$3,097 bilhões em abril. O apetite ainda grande dos investidores estrangeiros pelos títulos públicos também contribuiu, com estimativa de US$1,702 bilhão. Esse número é menor que os US$2,937 bilhões de março, mas Lopes o considera bom, refletindo a medida do governo que isentou de pagamento de Imposto de Renda (IR) o investidor de fora.

Pelo lado financeiro do balanço de pagamentos, os investimentos estrangeiros diretos decepcionaram, com saldo de US$790 bilhões em abril, abaixo da expectativa de US$1 bilhão do BC.