Título: `É PRECISO AUTORIZAR MOTORES A DIESEL EM CARROS¿
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 20/05/2006, Economia, p. 41

Disso depende o sucesso do biodiesel no Brasil, diz presidente da PSA Peugeot Citroën

Um dos maiores produtores de motores a diesel do mundo, a francesa PSA Peugeot Citroën faz pesquisas com o biodiesel há mais de dez anos e tem apoiado estudos no Brasil. Em entrevista ao GLOBO, o francês Jean-Martin Folz, presidente mundial do grupo, defendeu que o sucesso do combustível depende da liberação para o uso em carros de passeio. Animado com o crescimento da montadora no país, disse ainda que a filial brasileira terá lucro pela primeira vez.

A PSA apóia estudos de biodiesel no Brasil. É um combustível viável no país?

FOLZ: Em 2003 tive a oportunidade de falar com o presidente Lula sobre como seria interessante o acréscimo do biodiesel ao diesel. A mistura no diesel pode ser de uma proporção de até 30% sem necessidade de modificar veículos e a linha de distribuição.

O que falta para o biodiesel avançar no país?

FOLZ: Precisa de mais consciência coletiva. Além da questão de geração de empregos, o Brasil pode se transformar numa potência de exportação de biodiesel assim como na questão do etanol. Mas é necessário que o biodiesel possa se desenvolver no Brasil e para isso é preciso autorizar o uso de motores a diesel em carros.

Isso é fundamental?

FOLZ: É, para criar um interesse maior sobre o biodiesel. E o fato de substituir um motor a gasolina por um a diesel significa, mantendo o desempenho, uma redução de 20% no consumo e nas emissões de gases poluentes. Se no futuro a situação do Brasil mudar em relação ao diesel e, principalmente, ao biodiesel, nós poderíamos pensar em fazer motores a diesel no país.

A PSA está num ritmo acelerado de crescimento no país. Quais os próximos planos?

FOLZ: Tivemos uma evolução de 25% de crescimento na venda de veículos no ano passado, enquanto o setor cresceu 9,5%. O objetivo é continuar nesse ritmo. Para isso, o próximo passo vai ser colocar novos carros no mercado. Estamos lançando o C3 XTR e mais dois modelos este ano (o Peugeot 307 sedã e uma versão com estilo fora-de-estrada do 206 SW). Também estamos investindo na capacidade de desenvolver produtos específicos para o país.

Apesar do crescimento, em cinco anos no país, a PSA ainda não deu lucro.

FOLZ: Não falamos de resultados acumulados, mas em 2005 o impacto negativo somando Brasil e Argentina foi de 100 milhões. Quando começamos no Brasil tivemos uma situação difícil em decorrência do câmbio, que penalizou um fabricante ainda jovem no país e que não tinha muitos componentes importados. Mas nós crescemos. No ano passado, vendemos 80 mil carros. Em termos de integração, progredimos muito. Podemos dizer que 75% das peças são produzidas localmente. Como resultado, salvo algum acontecimento excepcional, em 2006 teremos pela primeira vez um resultado levemente positivo no país.