Título: `VIVEMOS COMO NUM ESTADO COM GUERRA CIVIL¿
Autor: Gelson Netto
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O País, p. 11

Moradores de Presidente Bernardes e Presidente Venceslau, onde presídios abrigam chefes da facção, vive com medo

PRESIDENTE VENCESLAU E PRESIDENTE BERNARDES. As cidades de Presidente Bernardes e Presidente Venceslau têm hoje algo a mais em comum do que os nomes de dois dos primeiros governantes da República. Localizadas no extremo oeste de São Paulo, abrigam em presídios os principais chefes do crime organizado no estado. Por causa disso, seus moradores vivem momentos de medo.

Acabou-se o clima pacato, típico do interior. As pessoas mudaram os hábitos. Ficaram para trás as conversas de fim de tarde nas calçadas. Deixar as janelas de casa abertas durante a madrugada já não é rotina.

O presidente da OAB em Presidente Bernardes, Edílson Carlos de Almeida, de 45 anos, diz que todos estão apreensivos com represálias ou ataques dos criminosos. Almeida não permite mais que seus três filhos brinquem na rua. O empresário Marcelo Pátaro, de 34 anos, dono de um posto de combustíveis, foi assaltado duas vezes:

¿ Vivemos com num estado com guerra civil, com toque de recolher: deu 18h e as pessoas têm de ficar quietas em casa.

Presidente Venceslau, a 620 quilômetros da capital, tem 38 mil habitantes. O primeiro presídio da cidade é de 1961 e fica na área urbana. Em junho de 2005, cinco presos foram decapitados numa rebelião.

Aulas foram suspensas e comércio fecha mais cedo

A penitenciária 2, de 1999, fica a quatro quilômetros do Centro. Foi destruída numa rebelião no ano passado. A reforma custou R$5 milhões ao estado. Voltou a funcionar no último dia 11, quando recebeu 765 integrantes da maior facção criminosa do estado ¿ inclusive o chefe do grupo, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que na semana retrasada foi transferido para Presidente Bernardes.

Segundo o coordenador das unidades prisionais da região oeste do estado, José Reinaldo da Silva, há temor com o comportamento agressivo dos presos. A intranqüilidade se reflete nas ruas de Presidente Venceslau. Durante a semana, aulas foram suspensas e o comércio fechou mais cedo. O balconista Edmário Dias Lopes Júnior, de 22 anos, não vai mais a bailes e a casas dos amigos. O prefeito Ângelo César Malacrida (PT) diz que ainda impera o medo.

Para o presidente da Associação Comercial e Industrial, Guido Ademir Denippotti, a maior preocupação é com uma fuga em massa:

¿ Está declarada uma guerra e as pessoas se preocupam com a sua integridade.