Título: ATÉ COM VERTICALIZAÇÃO IMPERA FARRA NAS ALIANÇAS
Autor: Ilimar Franco e Maria Lima
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O País, p. 19

Nos estados, nem mesmo os partidos do mensalão têm dificuldades para fazer coligações para disputar eleição

BRASÍLIA. A regra da verticalização, que vincula as coligações nos estados à aliança da disputa presidencial, está longe de garantir a coerência partidária que norteou sua criação. Partidos que não lançam candidatos a presidente continuam fazendo coligações a torto e a direito nos estados, independentemente de programas ou cor partidária. A harmonia política e a proposta de fortalecimento dos partidos, pregados pelos defensores da verticalização, ficam para segundo plano e só o que importa é a conveniência eleitoral.

Nem mesmo os partidos do mensalão ¿ PT, PTB, PL e PP ¿ têm dificuldades de fazer alianças diversas, inclusive com seus opositores na política nacional nos últimos três anos, como PSDB e PFL. A única restrição formal foi feita pelos petistas, que proibiram alianças com tucanos e pefelistas em resolução aprovada no encontro nacional do partido, em abril. Mas permitiram coligações com os três partidos mensaleiros, que integram a base do governo Lula.

Não há veto do PT nem mesmo ao partido que pediu o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PPS. A executiva nacional petista pode autorizar coligações nos estados. O PPS, no entanto, reagiu indignado: diz não querer a companhia do PT, o verdadeiro partido do mensalão, segundo afirmam seus dirigentes.

Nas negociações, tempo de TV

Os principais partidos de oposição ¿ PSDB e PFL ¿ criticaram o PT, a princípio, quando foram liberadas as coligações com os partidos do mensalão. Mas também eles disputam o apoio dos três patinhos feios da política brasileira. São vários os exemplos, que passam por Minas, Bahia e Goiás.

¿ Fazer aliança com os partidos do mensalão depende das circunstâncias. Os partidos são muito diferentes em cada estado. Aqui no Rio, por exemplo, os deputados Francisco Dornelles e Júlio Lopes são pessoas excelentes ¿ justifica o secretário-geral do PSDB e candidato do partido ao governo do Rio, deputado Eduardo Paes, que negocia o apoio do PP numa chapa com Dornelles para o Senado.

Alianças supostamente incoerentes ocorrem com freqüência por causa da disputa pelo tempo de propaganda gratuita na televisão destinado a esses partidos. O resultado prático é que os partidos que foram excomungados pela oposição durante a CPI dos Correios e no auge da crise do mensalão estão agora sendo purificados por interesses eleitorais.

¿ Essa história de partido do mensalão não afeta as nossas alianças com a oposição. Nos estados a realidade e a política são muito diferentes. Essa pecha de que o PP é partido do mensalão não existe nos estados. O partido é muito maior que as pessoas envolvidas no escândalo e estamos fazendo um intenso trabalho para melhorar a imagem do partido ¿ diz o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA).

Essa verdadeira salada partidária somente poderia ser evitada se todos os partidos tivessem candidatos próprios aos governos estaduais. O PDT lançou o senador Cristovam Buarque (DF) à Presidência da República, mas sua candidatura já é torpedeada nos estados pelos próprios pedetistas. Com a candidatura Cristovam, o PSDB e o PFL do Paraná, por exemplo, ficam impedidos de apoiar a candidatura do senador Osmar Dias (PDT) ao governo do Paraná. Seria o caso da desobediência da regra da verticalização: se PDT e PSDB disputam entre si no cenário nacional, não podem estar juntos no estado.

¿ Assim, o senador Álvaro Dias (PSDB) pode ser forçado a disputar o governo do Paraná para garantir um palanque para o Geraldo Alckmin ¿ afirma o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que pretende concorrer ao Senado na chapa do governador Roberto Requião, que tenta a reeleição.

O mesmo ocorre no PPS, onde a candidatura a presidente do deputado Roberto Freire (PE) pode inviabilizar o apoio do PFL à candidatura da deputada Denise Frossard (PPS) ao governo do Rio de Janeiro. O prefeito Cesar Maia (PFL) está fazendo sucessivas reuniões para formar uma frente que, além do PFL e do PPS, incluiria o PV e o PDT.

¿ Esta articulação depende das candidaturas do Freire e do Cristovam. Se elas forem mantidas, o PFL será forçado a lançar candidato no Rio ¿ diz o líder pefelista na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

PTB, partido de Jefferson, terá palanque em todo o país

O PTB é outro partido mensaleiro que apoiará candidatos a governador pefelistas, tucanos, peemedebistas e petistas. Terá palanque em praticamente todos os estados, apesar de ter sido o protagonista do escândalo, na figura do polêmico ex-deputado Roberto Jefferson.

O líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), rejeita o rótulo de partido do mensalão. Diz que não houve parlamentares do partido beneficiados por pagamentos do valerioduto. O PTB alega que o deputado Romeu Queiroz, presidente do partido em Minas e absolvido no processo de cassação, só repassou para prefeituras recursos prometidos pelo PT.

Mas o líder é cuidadoso. Mesmo com o PTB sendo disputado por candidatos de todos os partidos nos estados, Múcio teme uma surpresa negativa das urnas em outubro:

¿ A sociedade nos reserva uma surpresa sobre os efeitos do escândalo do mensalão nesta eleição. Está silenciosa demais. Napoleão dizia que nada grita mais alto que o silêncio ¿ afirma José Múcio, acrescentando: ¿ Como vai reagir se não cassamos ninguém? Eu olho para a sociedade com uma desconfiança danada.

O vale-tudo em matéria de alianças nos estados ainda poderá passar por novas turbulências até outubro. O presidente do PMDB do Rio Grande do Norte, Henrique Eduardo Alves, fez uma consulta à Justiça Eleitoral com o objetivo de limitar a possibilidade de coligações nas eleições para a Câmara e Assembléias Legislativas. Sua intenção é impedir os partidos que não integram as alianças para os governos estaduais de participarem de coligações para as eleições proporcionais.

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