Título: FUNDO DEVE COBRAR POR ASSISTÊNCIA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 21/05/2006, Economia, p. 35

Países membros poderão pagar por serviços técnicos, hoje gratuitos

WASHINGTON. Além de cortar em sua própria carne, o FMI ¿ que pouco tempo atrás inaugurou um novo e suntuoso edifício-sede na capital americana, pelo qual pagou US$150 milhões ¿ está pensando em passar a cobrar por seus serviços de assistência técnica. Eles são prestados há décadas aos países pobres que, no geral, não dispõem de profissionais capacitados para determinadas áreas, como, por exemplo, a administração de um banco central. Qualquer um dos 184 países membros do FMI tem direito a essa assistência gratuita.

O problema é que Brasil e Argentina pagaram integral e antecipadamente a enorme dívida que tinham com o Fundo. E como não há crises financeiras à vista, boa parte de sua fonte de rendimentos secou. O FMI, afinal, vive de juros. Mas acaba de despertar para a realidade:

¿O modelo financeiro em que as atividades de fiscalização do Fundo são financiadas por países que tomam dinheiro emprestado é antiquado num mundo em que nossos membros valem-se cada vez mais em fluxos de capital privado¿, diz o comunicado que o diretor-gerente, Rodrigo de Rato, emitiu na última quinta-feira.

Déficits crescentes pelos próximos anos

Nesse documento ele anunciou a nomeação de um comitê especial com a tarefa de buscar ¿opções para garantir que o FMI tenha uma base de renda sustentável e durável¿. Essa equipe será integrada, entre outros, por Alan Greenspan, que acaba de deixar o comando do Federal Reserve, o banco central americano, além de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, e Guillermo Ortiz, presidente do Banco Central do México.

Rato já havia soado o alarme semanas atrás, ao revelar que no ano fiscal de 2006 (encerrado em abril passado) o Fundo teve um déficit de US$166,8 milhões e que, em 2007, ficará US$88 milhões aquém do necessário para cobrir seus gastos.

Sabe-se agora, que a defasagem subirá para pelo menos US$211,4 milhões em 2008 e US$306,8 milhões em 2009. ¿A média da queda na renda anual nos próximos anos pode ser pequena em relação às reservas do Fundo (US$8 bilhões), mas ainda assim é equivalente a um terço do atual índice de gastos e levanta questões importantes sobre a sustentabilidade das finanças do FMI a longo prazo¿, advertiu De Rato. (J.M.P.)