Título: FMI, COM MEDO DE FICAR NO VERMELHO, REDUZ GASTOS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 21/05/2006, Economia, p. 35

Acostumada a recomendar aperto fiscal aos países, instituição agora é obrigada a cortar na própria carne

WASHINGTON. A prolongada falta de crises financeiras internacionais e o fato de os países em desenvolvimento estarem se fiando cada dia mais no setor privado para obter dinheiro estão deixando os funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI) apavorados. Afinal, a instituição, que este ano já registra um déficit, prevê uma substancial perda de arrecadação pelo menos até o fim desta década.

Por enquanto ainda não há risco de desemprego no FMI. Mas os planos de cortes nos gastos internos estão incomodando muita gente. A poupança forçada deve atingir, numa primeira etapa, as mordomias às quais os 2.802 funcionários da casa estão acostumados.

Uma das medidas em consideração é a de que todos passem a viajar em classe econômica. Hoje, economistas, tradutores e outros profissionais necessários às inspeções nos 184 países membros voam na classe executiva. É também nessa ala mais confortável que viajam todos os funcionários internacionais ¿ 76% do total do quadro ¿ mais as suas famílias, quando saem de férias. As passagens de todos para o descanso são pagas pelo FMI.

Além disso, o Fundo cogita cortar a ajuda de custo que dá US$1 mil por cada membro da família para as férias. Outro benefício em risco é o custeio dos estudos dos filhos dos funcionários. Hoje eles podem estudar em qualquer escola privada ¿ universidades, inclusive ¿ em qualquer lugar do mundo, com os gastos cobertos pelo FMI até a idade limite de 24 anos.

¿ Só falta agora nos obrigarem a pagar imposto de renda ¿ disse um dos descontentes ouvidos pelo GLOBO.

Ele se referia à outra mordomia: a de que só os funcionários americanos (24% do total do FMI) são mordidos pelo Leão de Tio Sam. Os demais não pagam ao fisco americano e tampouco ao de seus países de origem.

O consolo de todos é que os salários não deverão ser reduzidos. Assim, apesar da época de vacas magras, o diretor-gerente, Rodrigo de Rato, continuará faturando US$1.215,00 por dia (ele ganha US$443.760,00 anuais). A faixa dos salários de economistas vai de US$6.292,50 a US$12.311,00 mensais.