Título: PROJETO DA EBX EM CORUMBÁ CAUSA POLÊMICA
Autor: Paulo Yafusso e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 21/05/2006, Economia, p. 39

Ambientalistas afirmam que siderúrgica de Eike Batista afetará ecossistema do Pantanal. Empresa nega acusações

CAMPO GRANDE e RIO. A siderúrgica EBX, do empresário Eike Batista, que teve seu projeto na Bolívia vetado pelo governo de Evo Morales, enfrenta agora forte resistência para implantar uma planta industrial em Corumbá, a 426 quilômetros de Campo Grande, na fronteira do Mato Grosso do Sul com o país vizinho.

Ambientalistas e pesquisadores afirmam que o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) apresentado pela EBX tem sérias falhas. Parecer elaborado por esses pesquisadores, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE), conclui que a operação da siderúrgica na cidade ameaça o ecossistema do Pantanal. A empresa nega.

Autora do parecer pedido pelo MPE, Débora Calheiros, pesquisadora da Embrapa Pantanal, denunciou semana retrasada que vem recebendo ameaças desde a véspera da audiência pública, realizada no último dia 4, para debater o projeto da EBX em Corumbá.

¿ Não houve desrespeito a ninguém durante a audiência pública. O que houve foi uma mobilização de toda a sociedade da região. Aquela é uma área muito carente, que sofreu mais ainda recentemente com a crise provocada pela febre aftosa. Nosso projeto é muito bem recebido lá ¿ afirmou o diretor administrativo da EBX, Adriano Vaz, responsável pela área ambiental da empresa.

Empresa plantará floresta de eucaliptos de 35 mil hectares

A engenheira química e doutora em química Sônia Hess, que integra a equipe que elabora os relatórios ambientais para o MPE do estado, afirma que o aspecto que mais preocupa no projeto é de onde a EBX vai trazer o carvão vegetal para a produção de ferro-gusa.

¿ Pelo EIA-Rima, serão queimados 25 caminhões de carvão vegetal por dia, e a empresa não explica de onde virá esse carvão ¿ diz.

Segundo Vaz, a operação prevê duas fases. Nos primeiros sete anos, a empresa desenvolverá uma floresta particular com 35 mil hectares de plantio de eucalipto nas localidades de Ribas do Rio Pardo e Dois Irmãos do Buriti. Nesse período, para suprir o consumo estimado de 225 mil toneladas de carvão por ano, a empresa compraria carvão vegetal de produtores licenciados da região ou de florestas plantadas.

¿ Hoje esse carvão vegetal é ¿exportado¿ para Minas Gerais, mas muitas vezes não há comprador. Será vantajoso para o estado que esse carvão seja consumido lá.

Parecer alerta para risco à saúde do projeto

A capacidade de a região suprir essa demanda e a de outras três siderúrgicas que pretendem se instalar na região é questionada pelos pesquisadores. O parecer encomendado pelo MPE alerta ainda para os riscos à saúde provocados por indústrias desse segmento e observam que a empresa de Batista não detalha os tipos de partículas que serão lançadas na atmosfera durante a produção do ferro-gusa. Segundo o Rima, a siderúrgica lançaria na atmosfera 402,6 kg de material particulado por dia.

¿ Temos todas essas explicações no relatório, que foi fechado há cinco meses. Talvez os críticos tenham analisado o documento antes de ele ser finalizado ¿ disse Vaz.

(*) Especial para O GLOBO