Título: Minoria condenada à clandestinidade
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O Mundo, p. 41

ROMA. Antigamente eles formavam uma minoria folgada, mas de dois anos para cá, os fumantes italianos transformaram-se numa espécie condenada a desaparecer ou resistir na clandestinidade. Uma das poucas leis do governo de Silvio Berlusconi que não sofreu oposição da centro-esquerda foi justamente a que proibiu o fumo nos locais públicos. Gente acostumada a desobedecer regras descobriu que ia ser difícil driblar a lei do ministro da Saúde Girolamo Sirchia, cujo sobrenome virou verbo: sirchiare una sigaretta, fumar escondido.

A eficácia da proibição ¿ não se fuma em bares, restaurantes, lojas, escritórios, shoppings, nem mesmo nas tabacarias ¿ ainda não pôde ser testada. A lei entrou em vigor no início de 2005 e as primeiras estatísticas afirmam que 500 mil italianos deixaram de fumar. Mas a tendência já se registrava antes da sua aprovação. Tanto que, desde 2001, 2,4 milhões de italianos largaram o vício. Continuam fumando 26,2 % da população adulta; 87% dos fumantes aprova as medidas anti-fumo.

Os tabagistas revelaram-se pouco dispostos a se defender. São reféns cheios de culpa dos patrulheiros que não admitem nem cigarro apagado na mão. No inverno, podem ser vistos em pequenos grupos, reunidos para o rito de fumar ao léu. Os poucos que decidiram contra-atacar, escreveram um livro ¿ ¿Sinais de Fumaça¿ ¿ que se transformou num guia de sobrevivência para fumantes. Valentino Parlato, jornalista e fundador do diário ¿Manifesto¿, escreveu, com Livia e Marcantonio Borghese, o mapa das chamadas zonas livres onde se refugiar para fumar, inicialmente só em Milão e Roma, mas as próximas edições vão abranger outras cidades. O discurso de Parlato, no prefácio do livro, é um pouco excessivo: compara a proibição de fumar à repressão fascista. Mas a finalidade é compreensível: indicar bares e restaurantes onde é possível fumar bebendo um bom vinho, ou tomando um espresso.

Olhando as estatísticas, o que impressiona é que os jovens começam cada vez mais cedo a fumar ¿ 18 anos mulheres, 17 os homens.