Título: Polêmica sobre direitos individuais
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O Mundo, p. 41

LONDRES. Tragar ou não tragar já não é mais a questão. A proibição do fumo em clubes, bares e restaurantes do Reino Unido passou da esfera do bem-estar social à das liberdades civis, com opiniões para lá de divididas mesmo no gabinete do premier Tony Blair. Embora o Parlamento tenha aprovado em fevereiro uma lei que bane as baforadas na Inglaterra a partir do verão de 2007, o assunto está longe de encerrado. Não apenas porque grupos de defesa do tabagismo alegam que os direitos de fumantes podem estar sendo violados, mas porque o lobby anti-nicotina exige mais rigor nos planos das autoridades.

Atualmente, apenas a Escócia já se decidiu: uma proibição total entrou em vigor há dois meses. A Irlanda do Norte recentemente anunciou sua adesão a partir de abril de 2007. O País de Gales não tem autonomia para instituir a proibição, que depende do poder legislativo britânico, mas pode fazer emendas. Na Inglaterra, pelo menos por enquanto, a idéia é que o verão de 2007 seja marcado pelo banimento do fumo, com raríssimas exceções como prisões e quartéis. Algo bem diferente da proposta apresentada no manifesto do Partido Trabalhista para as eleições de 2005, em que se falava numa proibição parcial.

¿ Essa não é mais uma discussão sobre fumo, mas sobre direitos. Eu não fumo e detesto lugares esfumaçados. Mas é justamente por isso que me mantenho longe deles. Bares e restaurantes deveriam ter a liberdade de decidir sua posição com base nas opiniões de sua clientela, em vez de simplesmente obedecerem a uma intervenção governamental ¿ afirma Phillip Davies, parlamentar do Partido Conservador.

Médicos, porém, contra-atacam dizendo que funcionários de tais estabelecimentos podem não ser agraciados com o mesmo livre-arbítrio. E um recente estudo da British Medical Association (BMA) estimou que ao menos mil pessoas morram por ano no Reino Unido vítimas do fumo passivo.