Título: Copa do Mundo no meio da fumaça
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 21/05/2006, O Mundo, p. 41

BERLIM. Depois de duas Copas inteiramente livres da fumaça ¿ nos Estados Unidos, em 1998, e em Japão e Coréia, em 2002 ¿ o fumo será permitido na Copa da Alemanha, havendo apenas uma orientação ¿ e não proibição ¿ para que os torcedores não fumem nos estádios.

O retrocesso mostra o dilema entre os interesses de saúde e os financeiros, que contribuem para a defesa dos fumantes: se os alemães parassem de fumar, o orçamento público entraria em colapso, pois o imposto sobre o fumo garante ao Estado mais de 14 bilhões por ano, sendo a maior fonte de renda fiscal depois do imposto sobre os minerais.

Talvez por causa desse aspecto financeiro, os fumantes conseguem facilmente manter o seu lobby forte. Nos restaurantes, o cigarro ainda é quase sempre permitido porque os donos temem perder clientes. Ao contrário do que proíbe a União Européia (UE), há ainda no país publicidade de cigarros, mesmo que com a advertência do perigo que o fumo representa. Cerca de 34% dos alemães fumam e a idade dos iniciantes é cada vez mais baixa.

Por causa da lentidão na introdução das medidas exigidas, o comissário de Saúde da UE, Markos Kyprianou, chegou a ameaçar a Alemanha. Segundo um relatório da UE, ¿o consumo de nicotina atingiu uma dimensão epidemiológica¿: 25% das adolescentes e 20% dos adolescentes fumam. A encarregada de combate à droga do governo alemão, Sabine Baetzing, disse que no momento não há rigidez no combate ao fumo nos restaurantes porque eles têm prazo até março de 2007 para estabelecer um controle próprio e reservar 40% do seu espaço para os não fumantes. Segundo ela, se a meta não for alcançada, o governo está disposto a criar leis mais rigorosas.

Mas os restaurantes e bares pequenos, com uma área inferior a 75 metros quadrados ¿ a maioria ¿ continuarão livres dessa regra.