Título: LULA DIZ QUE LEMBO FEZ O QUE PÔDE
Autor: Chico de Góis
Fonte: O Globo, 22/05/2006, O País, p. 3

Em encontro com governador do PFL, presidente afirma que violência é problema da sociedade

SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaiou ontem uma aproximação com o PFL, no contexto da crise gerada pelo terror em São Paulo e já no clima eleitoral. Após manter uma conversa reservada com o governador Cláudio Lembo e em seguida com o prefeito Gilberto Kassab, ambos pefelistas, Lula fez elogios ao governador, pela condução da crise, e sinalizou com a possibilidade de ampliar a ajuda federal para São Paulo.

¿ Eu quero aqui, em público, dar a minha solidariedade ao governador Cláudio Lembo pela postura que ele teve. Ele não podia fazer mais do que fez ¿ disse Lula, depois de afirmar que a culpa pelos ataques foi de 20 anos de desmandos e de falta de investimentos em educação.

O presidente afirmou ainda que a violência em São Paulo não é um problema fácil de resolver pelos governantes, porque ¿o problema é da sociedade brasileira¿:

¿ O problema não é do governador, não é do presidente ou do prefeito, o problema é da sociedade brasileira. Nós estamos colhendo o que foi plantado neste país e, se nós quisermos resolver isso, precisamos assumir a responsabilidade dos passos que nós vamos dar.

Governador pediu encontro com presidente no aeroporto

Antes da declaração, Lula foi procurado por Lembo. Os dois se reuniram por 20 minutos, no aeroporto. O governador não quis comentar a conversa. O presidente esteve em São Paulo para inaugurar a sede do Sindicato dos Comerciários, da Força Sindical. No discurso, para cerca de dois mil sindicalistas, contou:

¿ Ainda há pouco estive com ele (Lembo) no aeroporto e lhe disse: ¿Cláudio, o que você precisar, não se faça de rogado. Nós estamos dispostos a ajudar com o que a gente tiver para ajudar¿.

Depois, foi a vez de Lula afagar Kassab. Sem citar nomes, o presidente fez críticas veladas ao ex-prefeito José Serra, pré-candidato a governador pelo PSDB, e ao prefeito do Rio, Cesar Maia, quando voltou a atribuir a onda de violência à falta de investimentos em educação. Dirigindo-se a Kassab, presente ao evento, Lula citou o programa federal Pró-Jovem, que dá uma bolsa de R$100 para jovens de 17 a 24 anos aprenderem uma profissão, e deu a entender que Serra e Maia não fizeram bom proveito do programa:

¿ No ano passado, Kassab não era o prefeito, era vice (de José Serra). E nós oferecemos para São Paulo e Rio o equivalente a 30 mil vagas. Por problema político, meu caro Kassab, e tenho certeza que isso agora vai ser resolvido, a cidade de São Paulo, até agora, só preencheu sete mil dos 30 mil colocados, e a cidade do Rio de Janeiro não preencheu nem os sete mil.

Na prática, Lula já vem apoiando Kassab. Na semana passada, ele foi recebido no Planalto e voltou com a promessa de um pacote de projetos federais para a Prefeitura. Por meio de sua assessoria, o prefeito disse que o gesto de Lula foi político e que e o diálogo está aberto.

O governador Lembo tem trocado farpas com o PSDB, após ter sua atuação criticada pelos aliados. Em suas declarações, tem mostrado que se sente abandonado pelo ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato tucano à Presidência. Com o afago, Lula aproveita as rusgas entre tucanos e pefelistas para atrair o PFL.

O deputado federal Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP) afirmou que é notória a tentativa de aproximação do presidente com o PFL:

¿ O afago do presidente ao PFL é uma constatação óbvia. O Lembo, inclusive, é o novo ícone da esquerda. O ibope dele no PT está em alta.

Para ACM, Lula quer melhorar imagem em São Paulo

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) reagiu à investida do presidente sobre os governantes de seu partido em São Paulo:

¿ Foi um agrado entre aspas, porque, na realidade, o presidente quer melhorar sua situação e a de Aloizio Mercadante (candidato a governador em São Paulo pelo PT). Não quer se passar pelo homem que está dificultando São Paulo.

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), tentará aparar as arestas entre Lembo e Alckmin hoje.

¿ Acho muito bom que o presidente seja solidário ao governador e que o ajude a minimizar a violência no estado ¿ disse.

Alckmin não quis comentar as declarações do presidente e Serra não foi localizado.