Título: CHINA INAUGURA A MAIOR HIDRELÉTRICA DO MUNDO
Autor: Gilberto Socfield Jr.
Fonte: O Globo, 22/05/2006, Economia, p. 15

Usina, que desbancará a binacional Itaipu, ainda funciona com metade da capacidade. Plenitude só em 2008

PEQUIM. Depois de 13 anos de obras, o governo da China inaugurou no fim de semana, oficialmente, a construção da represa que substituirá Itaipu (controlada por Brasil e Paraguai) como a maior hidrelétrica do mundo: o Complexo de Três Gargantas ¿ 185 metros de altura e 2,3 quilômetros de extensão ¿ no rio Yang-tsé. Apesar da inauguração oficial, com a cobertura maciça da mídia chinesa, típica de grandes eventos, a obra só ficará totalmente pronta quando estiverem em operação todas as 26 turbinas geradoras de energia, em 2008. Hoje, a usina opera apenas com cerca de 50% da sua capacidade ¿ 14 turbinas.

Com investimento total estimado de US$25,2 bilhões, capacidade de geração que chegará a 84,7 bilhões de kilowatts/hora (kWh) por ano e previsão de 18 gigawatts de potência, a obra já é considerada a nova Grande Muralha do país. Itaipu, que tem uma geração anual maior do que a que Três Gargantas atingirá, perderá em potência ¿ está sendo ampliada para 14 gigawatts.

¿ Este é o maior projeto de engenharia da História recente da China ¿ disse Li Yong'an, gerente-geral da Companhia de Desenvolvimento do Projeto de Três Gargantas, à agência de notícias Xinhua.

Apesar da festa, muito ainda há de ser feito para que a usina ¿ cujas 14 turbinas geraram 49 bilhões kWh em 2005 ¿ atinja sua capacidade total. E as dificuldades não se restringem aos cálculos de engenharia. Mais de 1,12 milhão de chineses foram compulsoriamente movidos de áreas inundadas pela represa e muitos lutam por indenizações para recomeçar suas vidas, apesar do apoio governamental.

O governo tem justificado o projeto não apenas pela energia a ser gerada, mas pela necessidade de controle das enchentes no rio ¿ que, nos últimos cem anos, mataram mais de um milhão de pessoas.

¿ Vamos gastar anualmente US$1,2 milhão em prevenção contra a poluição do rio e criamos um sistema de US$2,5 milhões para limpar as águas do lixo ¿ disse o vice-gerente-geral da represa, Cao Guangjing.

Especialistas temem danos ao meio ambiente

Há quem diga que estes esforços não são suficientes para prevenir desastres ecológicos e proteger fauna e flora locais. Em entrevista à TV CNN, o jornalista Jin Hui, que se especializou em cobrir os problemas ambientais causados pela represa, diz que o governo não está se preocupando em retirar materiais tóxicos de empresas abandonadas e que serão inundadas. Ou em obrigar as empresas que operam ao longo do Yang-tsé a montar eficientes sistemas de tratamento de dejetos.

Há ainda a conseqüência da própria transformação do rio em sistema navegável para grandes barcos. Com a represa, navios de dez mil toneladas serão capazes de percorrer de Xangai, na costa Leste, à Chongqing, dois mil quilômetros por dentro do país. O rio, dizem os especialistas, com um ritmo menor de escoamento de água para o oceano e sobrecarregado por um transporte fluvial mais pesado, correria o risco de se transformar num esgoto a céu aberto.

O governo nega as acusações. E garante que a hidrelétrica ¿ que está no centro dos esforços da China para reduzir sua dependência de carvão e petróleo como geradores de energia ¿ é uma obra que se preocupou não apenas com a conservação do rio, mas com a preservação da indústria de turismo, que, anualmente, leva milhões de chineses para as belíssimas gargantas do Yang-tsé.

¿ Pensando nas ameaças, fizemos uma estrutura capaz de suportar qualquer ataque terrorista e um terremoto de até sete graus na escala Richter ¿ afirmou Cao Guangjing.