Título: BRASIL PROPORÁ INVESTIMENTOS À BOLÍVIA
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 22/05/2006, Economia, p. 15

Amorim se antecipa a Chávez e discute hoje com Morales laços bilaterais

LA PAZ. O governo brasileiro usará todo o peso de sua diplomacia em um encontro, hoje, entre o chanceler Celso Amorim e o presidente da Bolívia, Evo Morales. Amorim ¿ que terá sua primeira conversa com autoridades bolivianas desde Viena, na Áustria, há cerca de duas semanas, quando a crise chegou ao auge ¿ desembarcou ontem em La Paz com a missão de estreitar laços bilaterais, por meio de promessas de investimentos e abertura de mercado, quatro dias antes da visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, à capital boliviana.

O chanceler também pedirá a Morales que os direitos dos cidadãos brasileiros que ocupam terras na Bolívia sejam respeitados na reforma agrária iniciada recentemente no país. Espera-se que, na sexta-feira, Chávez anuncie projetos como a instalação de indústrias das áreas de petróleo e petroquímica e recursos para a reforma agrária, estimados em cerca de US$100 milhões, que serviriam para financiar obras de infra-estrutura nos assentamentos.

As benesses de Chávez afastariam ainda mais a Bolívia do Brasil. O presidente da Venezuela chegou a oferecer a tecnologia da PDVSA, estatal petrolífera venezuelana, a Morales, caso a Petrobras decida abandonar as duas refinarias que tem na Bolívia, por não concordar com a forma do decreto de nacionalização das reservas petrolíferas, com destaque para o gás natural.

A possibilidade de um convite a Morales para que a Bolívia entre como sócio pleno do Mercosul não está descartada. Para isso, o Brasil conta com dois fortes argumentos. Em dezembro, deixará de vigorar um acordo antidrogas entre Bolívia e EUA, que permite a compra de produtos bolivianos, como móveis e confecções, com tarifas de importação reduzidas. Além disso, a Bolívia está perdendo mercado na Colômbia e no Peru para seus bens agrícolas, devido aos tratados de livre comércio que os dois países assinaram com os EUA. A abertura do mercado brasileiro pode ser vantajosa para Morales.

¿ Sempre dissemos que seria uma honra para o Mercosul ter a Bolívia como sócio pleno. Certamente, os bolivianos terão tratamento de um país de menor desenvolvimento, com as mesmas vantagens que estudamos para Uruguai e Paraguai ¿ disse Amorim.

Ele garantiu que não está em La Paz para negociar a nacionalização do gás boliviano, deixando claro que a incumbência é da Petrobras. Mas defendeu o direito de a estatal ser indenizada, se for prejudicada.

(*) A repórter viajou em um avião da FAB, a convite do Itamaraty