Título: CPI: ARMAS DE FACÇÃO PAULISTA VÊM DO PARAGUAI
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 23/05/2006, O País, p. 8

Organização criminosa com 640 mil integrantes receberia armamento de apenas um homem, dizem delegados

SÃO PAULO.A maior conexão da facção criminosa paulista com o tráfico de armas é feita por apenas um homem e as armas são importadas do Paraguai. Segundo o depoimento dos delegados Godofredo Bittencourt Filho e Rui Ferraz Fontes à CPI do Tráfico de Armas, em Brasília, ao qual O GLOBO teve acesso, a facção, que teria 640 mil membros, é uma das maiores importadoras de armamento do Brasil.

¿ Nós estamos tentando identificar um determinado indivíduo que é o intermediário dessas compras constantes de armas. Nós apreendemos as armas deles oito meses atrás, e dois meses depois já tinham comprado tudo de novo. E aí apreendemos de novo. Dois meses depois, eles compraram tudo de novo e apreendemos agora ¿ contou o delegado Fontes aos parlamentares, no dia 10.

Chefe do Deic (Departamento de Investigações Criminais), Bittencourt não quis detalhar ontem as investigações sobre o comprador do Paraguai.

Os delegados disseram à CPI que o livro-caixa apreendido há oito meses com um tesoureiro da facção, que morreu pouco depois na prisão, apresenta uma série de nomes de advogados que participariam dos crimes. Os deputados pediram cópia do livro-caixa e a lista de casos em que a Justiça permitiu a libertação de chefes da facção. Um dos casos citados é o de Cíntia, mulher de Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola. Embora tenha suas transações financeiras anotadas no caderno e em documentos bancários, ela está em liberdade.

Segundo os delegados, a facção já conta com 640 mil membros, sendo que 140 mil são presos distribuídos em todo o estado. As informações da polícia são recebidas, geralmente, por grampo de celular. Os policiais interceptam conversas e, com os nomes divulgados, vão tecendo a rede da facção, que hoje opera com um ¿conselho¿ de oito integrantes. A polícia chegou a assistir à execução ¿online¿ de um refém:

¿ Temos gravada uma conferência de chamadas entre 12 presos decidindo sobre a vida de um indivíduo que já estava custodiado com alguns criminosos em São Vicente. Eles julgaram, por meio da conferência, condenaram esse sujeito à morte e ouviram os tiros que o mataram ¿ disse Fontes.

Também com grampo telefônico, o tesoureiro da facção acabou preso e depois morto na prisão, há oito meses. Com o desmantelamento da tesouraria única da facção, a quadrilha passou a operar com até cinco tesoureiros.