Título: TERRAS NA BOLÍVIA SÃO FOCO DE ENCONTRO
Autor: Regina Alvarez e Martha Beck
Fonte: O Globo, 23/05/2006, Economia, p. 28

Morales diz a Amorim que brasileiros serão tratados de modo civilizado

LA PAZ e BRASÍLIA. A forma de desapropriação das terras ocupadas ilegalmente pelos brasileiros que residem na fronteira entre Bolívia e Brasil é o novo tema de negociação entre os dois países. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ouviu ontem do presidente boliviano, Evo Morales, e de seu chanceler, David Choqueuanca, que os brasileiros serão tratados ¿de forma humanitária e civilizada¿ no processo de reforma agrária. Amorim, porém, deixou La Paz sem a garantia de que os brasileiros desapropriados não serão deportados.

¿ A reforma agrária é para todos, brasileiros e bolivianos. Aqueles que estiverem ocupando terras ilegalmente terão de sair. Nossas leis têm de ser respeitadas ¿ afirmou Choqueuanca, após uma audiência com Amorim e Morales.

¿ Até o momento, não ouvi a palavra expulsão das autoridades bolivianas. Quanto aos produtores de soja, pelo que entendi, a situação é muito tranqüilizadora ¿ emendou Amorim.

O quadro só deverá ter um contorno mais concreto em um mês, quando um grupo formado por representantes dos governos vai se reunir pela primeira vez, em La Paz, para negociar uma saída para os mais de dois mil brasileiros em situação irregular. Para os cerca de 150 produtores de soja a situação é menos complicada, pois grande parte tem títulos das propriedades e terras produtivas, além de responder por 60% das exportações bolivianas.

Amorim fez questão de dizer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua insatisfeito com a presença do Exército nas refinarias da Petrobras. O chanceler renovou ofertas de investimentos do BNDES em infra-estrutura e a abertura do mercado brasileiro para produtos bolivianos.

A questão da energia ¿ incluindo o biocombustível ¿ vai dominar a agenda do encontro entre os presidentes Lula e Jacques Chirac, da França, na quinta-feira. Chirac chega amanhã ao Brasil acompanhado de cinco ministros e de 20 grandes empresários. Lula e ele assinarão um documento sobre a importância do biocombustível e a necessidade de ajudar países de ¿economia vulnerável¿ ¿ como nações caribenhas e africanas pobres ¿ a desenvolver a energia.

A visita, segundo o subsecretário-geral político do Itamaraty, embaixador Antonio de Aguiar Patriota, oficializará uma parceria estratégica que já existe entre os países. O embaixador disse que os franceses têm interesse em energia nuclear e que certamente perguntarão sobre os planos para Angra 3. A questão com a Bolívia também deve ser abordada.

Lula deverá reiterar a importância de se concluir o acordo entre Mercosul e União Européia, além da necessidade de a Europa abrir seus mercados aos produtos agrícolas.

(*) A repórter viajou em um avião da FAB, a convite do Itamaraty.