Título: VARIG FICA SEM EMPRÉSTIMO-PONTE DO BNDES, MAS CONSEGUE PRAZO DA BR
Autor: Erica Ribeiro, Geralda Doca e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 23/05/2006, Economia, p. 31

Negociação com distribuidora será semanal e com base no fluxo de caixa

RIO e BRASÍLIA. O BNDES informou ontem que nenhuma das três propostas apresentadas ao banco para o empréstimo-ponte à Varig foi aprovada. O dinheiro era necessário para garantir capital de giro à companhia até o leilão, previsto para o início de julho. O banco, no entanto, decidiu oferecer financiamento para o vencedor do leilão, de dois terços do total da venda. Ontem, a Varig conseguiu ainda fôlego com a BR Distribuidora e garantiu fornecimento de combustível até dia 31.

A Varig acertou repassar à BR recebíveis de cartões de crédito e valores a receber de agências de viagem e de concorrentes internacionais, segundo fontes ligadas à BR, para quem não houve tratamento privilegiado à companhia. O diretor da consultoria Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, disse que a negociação será semanal:

¿ A partir do dia 31 vamos nos sentar com a BR semanalmente e analisar o fluxo de caixa. A BR se comprometeu a nos ajudar até o leilão.

A dívida de R$18 milhões acumulada com a estatal durante a vigência da liminar que obrigou a BR a vender combustível sem cobrar à vista será paga em espécie, a partir da próxima semana.

¿ O fluxo de caixa já melhorou e vai melhorar muito com a Copa do Mundo e as férias de julho. Tradicionalmente nossa receita sobe neste período mais de 30% ¿ informou Gomes.

A possível melhora do caixa seria a principal razão para manter em sigilo as bases da negociação: não melindrar outros credores, como a Infraero e empresas de leasing, que não estão recebendo da Varig. A Infraero informou que a Varig não pagou as tarifas de embarque atrasadas, de R$9 milhões. A empresa já descontou os valores dos passageiros. A Infraero deverá recorrer ao Ministério Público Federal.

Sem empréstimo-ponte do BNDES, a Varig irá a Brasília hoje tentar uma alternativa até o leilão. O BNDES previa liberar até US$167 milhões, e os interessados completariam o que faltasse para atingir US$250 milhões. Entre as propostas estavam a do Banco BRJ e a dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). As propostas foram rejeitadas porque não tinham fiança bancária e não havia previsão de recursos próprios.

Gomes disse ontem que a Varig continua negociando diretamente com outros interessados condições para um empréstimo-ponte. Ele descarta a hipótese de antecipar o leilão. Mas a possibilidade é considerada pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio.

A Varig Engenharia e Manutenção (VEM), vendida a um grupo liderado pela TAP no ano passado, teve um prejuízo de R$69 milhões em 2005, acima dos R$12 milhões em 2004. A empresa sofreu, por exemplo, com a forte desvalorização do dólar frente ao real.