Título: Ouvidoria apura 61 mortes por suspeita de abusos
Autor: Ricardo Galhardo/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O País, p. 5
Possibilidade de atuação de grupos de extermínio formados por policiais civis e militares também é investigada
SÃO PAULO. A Ouvidoria de Polícia de São Paulo investiga 61 mortes de civis atribuídas a policiais civis e militares em 41 ações nas últimas duas semanas. O motivo das investigações é a suspeita de abusos e arbitrariedades supostamente cometidos por policiais na reação aos ataques desencadeados pelo crime organizado. Esses mortos, segundo a polícia, tinham ligações com o crime.
A Ouvidoria investiga também a possibilidade de grupos de extermínio integrados por policiais terem assassinado outros 12 jovens com idades entre 17 e 29 anos. Essas vítimas não tinham passagens pela polícia.
Segundo os boletins de ocorrência em poder da Ouvidoria, em todas as 41 ações a história é a mesma: policiais foram atacados por criminosos armados e reagiram aos ataques, matando os inimigos em legítima defesa. Em todos os casos, segundo os boletins, foram aprendidos armamentos com as vítimas.
Famílias contestam a versão oficial para os óbitos
A Ouvidoria quer saber se os relatos dos boletins correspondem à verdade, já que em muitos casos as famílias das vítimas contestam a versão da polícia e dizem que houve execução. O ouvidor da Polícia de São Paulo, Antonio Funari Filho, disse que pode ter havido excessos.
- Temos informações de que muitas mortes foram provocadas não sabemos por quem. Pode ter sido pelo crime organizado ou pela polícia, que teria agido, em alguns casos, fora da normalidade- disse Funari.
Alguns policiais são suspeitos em mais de um caso. Mauro Fatinetti Júnior, Douglas Ortiz de Lima e Valdemir Tadeu Vilodres, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), são investigados pelas mortes de dois homens não-identificados na Alameda Ipê, em Osasco, no dia 16 à noite. Os policiais afirmam que reagiram, pois os homens saíram atirando de uma caminhonete. Um deles conseguiu fugir. Dois dias depois, os mesmos policiais mataram outros dois homens na Avenida das Nações Unidas, também em Osasco.
Os PMs Jeferson Almeida Nero, Luiz Henrique dos Santos, Sidnei Shorosaki e Luciano Grecco, de Suzano, mataram Fabrício dos Santos Buides e um homem não identificado em uma troca de tiros na noite do dia 14. No dia seguinte, eles mataram mais uma pessoa que também teria resistido à prisão. Os policiais foram procurados ontem mas não foram encontrados.
Em Santa Bárbara D'Oeste, interior do estado, o policial Edvaldo Sarterato foi indiciado por prevaricação por se recusar a entregar à perícia o revólver que teria sido usado na morte de Marcos Caboclo da Silva, de 22 anos. Suspeito de ligação com o crime organizado, Caboclo foi morto dentro de casa. Os policiais alegam que invadiram a casa depois de ouvir barulhos estranhos.
Parentes de vítimas contestam as afirmações dos policiais. A família de Rodrigo Storolli Mendes, morto no dia 21 ao lado de Vagner Rodrigues Pimentel e um homem não identificado na Zona Norte de São Paulo, afirma que ele não era ligado ao crime organizado. Segundo o pai de Mendes, ele sofria ameaças de policiais. A PM alega que Mendes havia roubado um carro e houve troca de tiros.
A Ouvidoria divulgou lista de 12 pessoas mortas em cinco chacinas na semana passada: Ricardo Flausino, Lindomar Lino Silva, Fernando da Silva Rodela, Robson de Souza, Ivan Ramos Ferreira de Moura, Edilson Pedro de Souza, Paulo Lopes Rissi, Bruno Henrique de Souza; Diego de Andrade Santos, Israel Alves da Silva, Fábio de Lima Andrade e Edivaldo Soares de Andrade.
Denúncias em presídios
Parentes acusam policiais militares
SÃO PAULO. Denúncias feitas por parentes de presos às advogadas Libania Catarina Fernandes Costa e Fabiana Fernandes Fabrício indicam que 11 presos teriam sido mortos por policiais militares na tentativa de debelar a onda de rebeliões em presídios semana passada. Segundo as advogadas, outros 200 presos ficaram feridos nas ações da PM nos 73 presídios rebelados. Libania pediu à juíza corregedora dos presídios de Araçatuba exames nos presos Ébano Cordeiro Cabral e Rubens Pereira Barros, detidos em Mirandópolis. Segundo parentes, Cabral teve uma perna quebrada durante a revista realizada no presídio. Barros teve um braço quebrado.
A Secretaria de Assuntos Penitenciários confirma que nove presos morreram durante as rebeliões. Admite que as mortes podem ter ocorrido em confrontos com policiais ou entre os próprios presos, mas afirma que as circunstâncias das mortes ainda estão sendo apuradas.
Casos sob investigação
Entre as 61 mortes investigadas pela Ouvidoria da Polícia, algumas vítimas já tiveram os nomes divulgados pelo órgão:
Jefferson Morgado Britto
Leandro dos Santos
Ednaldo Batista de Souza
Silvio Gonçalves da Silva
Everson Silva de Almeida
William Alves Martins
Rafael Dantas da Silva
Jonathan Roberto Farias
Paulo Ricart do Vale
Cristiano Augusto Rodrigues
Paulo Eduardo Gomes de Oliveira
Paulo Ricardo da Silva Teixeira
Carlos Sérgio Oliveira
Eraldo Nogueira da Silva
Franz Carlos de Lima Inácio
Hélio André dos Santos
Hercules Santos da Purificação
Marcos Rodrigues Pinto
Leandro Xavier Dias
Francisco Josicleiton do Nascimento
Marcos Caboclo da Silva
Jorge Wesley Lisboa Andrade
Vagner Rodrigues Pimentel
Rodrigo Storolli Mendes
Fabrício dos Santos Buides
Antonio Ailton Batista
Edenaldo Moura Bessa
Juliano Diogo
José Arruda da Silva