Título: DELÚBIO DEPÕE E NEGA TUDO, AGORA ATÉ CAIXA DOIS
Autor: Jailton de Carvalho e Ana Paula de Carvalho
Fonte: O Globo, 24/05/2006, O País, p. 10

Ex-tesoureiro se responsabiliza por empréstimos de Marcos Valério para o PT e não convence

BRASÍLIA. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares negou ontem ter pedido dinheiro para dirigentes do Banco Opportunity em troca da defesa dos interesses do grupo no governo. Durante mais de quatro horas na CPI dos Bingos, esta foi apenas uma das negativas do ex-petista. Numa das poucas afirmações que fez, a de que foi o único responsável no PT pelos empréstimos tomados pelo empresário Marcos Valério nos bancos BMG e Rural, no valor de R$55 milhões, Delúbio não conseguiu convencer os senadores.

Apesar de a cúpula do PT ter admitido caixa dois, versão usada entre outras coisas para negar desvio de dinheiro público, o ex-tesoureiro petista insistiu em diferenciar caixa dois de "recursos não contabilizados":

- O que o PT fez é muito diferente de caixa dois. O PT pegou dinheiro contabilizado para pagar despesas não contabilizadas - afirmou Delúbio.

Sobre o Opportunity, ele confirmou ter tido encontros com Carlos Rodenburg, ex-sócio de Daniel Dantas no banco, num hotel em Brasília. Mas negou ter pedido "dezenas de milhões de reais" ao grupo, como afirmou Verônica Dantas, executiva do Opportunity, num processo na Justiça americana. O Opportunity disputa com os fundos de pensão o controle da Brasil Telecom, uma das maiores companhias do país:

- Rodenburg queria saber por que o PT não gostava do Opportunity. Disse que o PT não tinha restrições ao grupo. Não conheço Verônica e fiquei sabendo da denúncia pelo senador Arthur Virgílio (que falou do assunto na CPI dos Bingos). Não pedi ao Rodenburg ou ao Daniel Dantas dinheiro para o PT.

A versão do petista sobre os empréstimos tomados pelo PT e por Marcos Valério é contraditória com a apresentada pelo partido para se defender na ação judicial em que o empresário mineiro tenta receber os créditos. O PT não reconhece a dívida. Embora admita que não existe um ato formal autorizando-o a tomar os empréstimos, Delúbio disse que o PT tem responsabilidade pelas operações.

Mas o ex-tesoureiro insiste em que tomou sozinho a decisão de pedir ajuda a Valério. No máximo, afirma que o ex-presidente do PT José Genoino sabia das dificuldades financeiras.

- Eu era o responsável pela gestão financeira e tinha a delegação política do diretório para resolver os problemas. Conversei com Marcos Valério e ele se colocou à disposição - respondeu Delúbio ao presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), que perguntou quem o teria autorizado a contrair os empréstimos.

- Fui criado numa família em que aquilo que você faz, você assume. As dívidas não eram minhas. Não fui candidato. Mas em política é assim: uns assumem e outros não assumem - completou Delúbio.

Além de Efraim, os senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Heloisa Helena (P-SOL-AL), José Agripino Maia (PFL-RN) e Arthur Virgílio (PDSB-AM) insistiram no assunto.

- Acho impossível que vossa senhoria isoladamente armasse um acordo sozinho com Marcos Valério - disse Heloisa Helena.

Efraim concordou com ela:

- Ele disse que recebeu delegação política. E acima de Delúbio estavam José Dirceu e o presidente Lula.

"Fui criado numa família em que aquilo que você faz, você assume. As dívidas não eram minhas. Não fui candidato. Mas em política é assim: uns assumem e outros não assumem"

DELÚBIO SOARES , Ex-tesoureiro que foi expulso do PT